sábado, 8 de outubro de 2011

As Palavras de um Anjo - PARTE II



Não deixe de ler a primeira parte desta história escrita por Rodrigo Picon antes de continuar.

Pouco tempo após a misteriosa ligação, estávamos na sala de espera do pequeno hospital de Jade. Clarinha não conseguia esconder a preocupação com o seu querido irmão. Isso se percebia no modo em que ela andava - de um lado para o outro freneticamente.

A enfermeira sai da sala do médico em direção à sala de espera.

- Clara, o doutor está à espera. - eu disse

Clarinha percebe a enfermeira chamar e logo caminha para o consultório. Eu e Stan resolvemos ficar do lado de fora esperando ela. Até porque não poderíamos nos envolver numa situação que não nos pertencia, a menos que Clara precisasse.

Após algum tempo, Stan vira para o meu lado e me pergunta:

- O que será que aconteceu com o irmão da moça, Dan?

-Uma história muito triste, meu caro amigo. Muito triste...

Contei da grave doença que o menino sofria e também da minha história com ela. Stan logo abaixou a cabeça e silenciou-se. Eu não consegui entender o porquê daquilo, mas, logo, naquela mesma posição, ele me disse algo que não sabia.

Eu sabia que seu pai tinha morrido há algum tempo, mas fiquei surpreso quando ele me disse a causa da morte, a mesma doença que o menino estava sofrendo. Sua voz ficou trêmula e seus olhos ficaram vermelhos, porém ele se segurou para não chorar. Isto dava-se para perceber.

- Sei como ela deve estar se sentindo, eu me lembro até hoje a luta de meu pai contra esta maldita doença.

Aquela situação mexeu comigo. Senti uma tristeza profunda por causa das palavras do meu amigo e também pela situação que Clarinha estava passando. Era difícil lutar contra uma doença tão grave e cruel.

A porta do consultório abre e logo Clarinha sai com os olhos cheios de lágrimas, o choro tinha tomado conta dela.

Levantei-me e fui em sua direção. Ela logo me abraçou forte. Naquele momento senti um vazio inimaginável, queria não acreditar na hipótese de que seu irmão tinha falecido. Uma lágrima escorre no meu rosto enquanto estava abraçado com ela, porém logo enxuguei com a manga da camisa, antes que ela percebesse. Não queria vê-la naquele estado e por isso tentava de todas as formas não me abater.

Levei Clara até uma cadeira onde podia se sentar e fui até o bebedouro para lhe trazer um copo de água. Ela logo disse algumas palavras:

- Ele está muito mal Dan, muito mal...

Naquela hora um peso saiu de dentro de mim, não porque me senti feliz com o que ela disse, mas sim por ainda haver alguma chance de o garoto lutar por sua vida.

- O que o médico disse exatamente?

- Que não há mais nada a ser feito, o estágio da doença avança a cada dia e meu irmão está muito debilitado para suportar os medicamentos .

Ela logo dá uma recaída e começa a chorar novamente. Coloquei o meu braço nos ombros dela e disse algo para tentar acalmá-la.

- Entendo como você está se sentindo.

- Não entende, Dan - disse meia descontrolada - Ele é o meu irmão, a única pessoa que tenho neste mundo. Depois que meus pais morreram, prometi para mim mesma que eu viveria unicamente para ajudar o meu irmão a sair dessa.

Ela abaixou a cabeça e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto e molhar o chão. Fiquei calado, sem conseguir ter reação ao que ela disse.

Stan, afastado, me faz um sinal de que estava indo embora. Fui até o encontro dele:

- Estou indo até o apartamento arrumar as minhas coisas, vou te esperar por lá para gente ir pegar o ônibus.

- Está bem cara. Daqui a pouco eu chego lá.

Ele nos cumprimentou e foi em direção a porta de saída.

Não sabia o que tinha que fazer para ajudá-la, mas sabia que algo tinha que ser feito. Sentei ao lado e cheguei bem perto do seu ouvido e disse com um tom mais sério:

- Então você vai desistir?

Ela me olhou surpresa.

- Não disse isso.

- Mas é isto que eu estou vendo em você agora, uma pessoa que desistiu de lutar.

Ela ficou sem reação e um silêncio tomou conta da sala.

-Deve ter algum lugar que possa fazer mais pelo seu irmão. O hospital aqui não tem uma grande estrutura e além do mais o doutor disse que não pode fazer mais nada, porém deve haver alguém em algum lugar que ainda possa. Não se abale agora. Ainda há chance de lutar.

Aos poucos, Clarinha ia se acalmando. Sentia-me melhor com isso.

-Eu estou do seu lado. Pode confiar em mim.

Segurei sutilmente sua mão e um sentimento difícil de descrever tomou conta de mim. Sentia uma mistura de calma e euforia ao mesmo tempo. Sua pele parecia que passava uma energia tão doce que me contagiava.

-Você está certo Dan, eu não vou desistir.

- É assim que se fala, moça! - disse, com um tímido sorriso no rosto

Saímos do hospital e já estava bem tarde. Deixei ela em sua casa e fui correndo até o apartamento. Abri a porta e vi um recado em cima da mesa. Cheguei mais perto e peguei para ler. Era do Stan. Ele tinha partido sem me esperar, pois tinha problemas em Cansul para resolver. Como eu tinha demorado, ele pediu desculpas de ter partido sem mim.

Além disso, bem embaixo da carta ele dizia, "cuide bem da moça Dan, ela precisará muito de alguém que incentive a continuar. Sei como é difícil o que ela está enfrentando. Abraços".

Resolvi ficar por aquela noite na cidade.

Fiquei hospedado no mesmo quarto que estava com Stan. Estava sentado em uma cadeira de madeira em frente a uma enorme janela que dava vista às belas montanhas que rodeavam a cidade. Aquela imagem era tão fascinante que me transportava para outro mundo. Porém sempre voltava para a realidade quando pensava em Clarinha. Queria ajudá-la, porém não me sentia em condições de fazer nada. Até que me veio uma ideia repentina. Será que ela toparia? Não sei dizer, mas era necessário arriscar.


Não deixe de ler a última parte desta história escrita por Rodrigo Picon 





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