terça-feira, 25 de outubro de 2011

Um dia diferente



Hoje pela manhã acordei como se um trator tivesse passado por cima de mim – acordei todo doído, cabeça pesada e vontade de voltar a dormir. Tudo naquele dia iria me irritar, qualquer coisa que fosse. Mas o que mais me irritou foi o meu café da manhã, péssimo, diga-se de passagem. Um pão dormido e um café frio. Minha mãe me explicou que, por estar fortemente doente, ela não podia se mexer muito. Mesmo assim, não aceitei desculpas e descarreguei nela o ódio que eu possuía dentro de mim. Aliás, fiquei pior depois do café detestável que tomei.
Saí de casa com bastante fome, em direção ao colégio, mas, precavido e esperto que sou, levei dinheiro para fazer um bom lanche na lanchonete da esquina. Foi quando vi a cena que mudou aquela minha manhã. Não, não foi uma linda garota, porque tampouco a cena era bela. O que eu vi foi uma mulher, esquelética, com uma criança, um pouco mais gordinha que ela, mas nem tão gorda assim, pedindo dinheiro. Ao passar por ela, a mulher me perguntou se eu tinha tempo para ela me contar um pouco de sua vida. Falei rapidamente que não, não tinha tempo para bobagens como aquela. Mas a mulher insistiu e acabei ouvindo. Foi quando eu mudei completamente minha forma de pensar. Ela me contou que seu marido a abandonou com a criança que tinham na sarjeta e ela não come nada, absolutamente nada, a dias, porque tudo o que ganhava, ela dava ao filho. E ela me pediu dinheiro para seu filho comer, não era para ela, era para a criança.
No início, não acreditei, achei que fosse outra mentira de bêbada para conseguir dinheiro, como há tantos no país, mas logo reparei no seu olhar a sinceridade de suas palavras. Em seguida, a cada palavra proferida por aquela mulher que martelava em minha cabeça, era uma agulhada no meu peito. Naquele instante, veio-me na cabeça as lembranças dos meus atos naquele dia que logo começara e vi que, meu dia era ruim, mas a vida da mulher era pior. Eu tinha casa, família, dinheiro para, pelo menos, comer, enquanto a mulher levava uma vida péssima, famigerada, jogada na sarjeta, mas, mesmo assim, não desistia nem reclamava. Minha raiva toda sumiu e me tornei aquilo que acredito que jamais uma pessoa comum seria – ser humano: chamei-a para ir até a lanchonete onde eu ia comer e dei-lhes – a ambos – um delicioso lanche, onde saí mais satisfeito do que se eu tivesse me alimentado.

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