quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Reação



Que sensação de euforia é esta? Que elemento é esse que impulsiona meu corpo a querê-lo cada vez mais e mais e mais!?
Minhas veias dilatadas parecem um rio enfurecido, milhões e milhões de coisas em um fluxo incessante. Meu coração em um pulso frenético faz um som agudo penetrante - tun’TUM, tun’TUM, tun’TUM!
Adrenalina, uma droga viciante que se espalha rapidamente em meu ser. O bem estar agora me domina e, no entanto, cada elemento é essencial para que eu me drogue, me drogue, drogue...O anseio de uma propriedade que me relaxe, me domine, me conforte!
Meus olhos dilatados, minha atenção presa em um êxtase febril de relaxamento e um turbilhão de sensações que me transformam em um dependente natural do esporte.
A paisagem se integra ao meu pensamento e, por fim, aqui estou. Debruçado sobre a areia molhada da praia, sendo magicamente batizado pelo término da maré e maravilhado com o brilho colossal do renascimento do grande astro além mar.
Meu corpo agora frio espera por mais um estímulo austral, clama mais uma vez que tudo se acelere a mil! nada além do natural... Todo meu esforço é recompensado com um alto e firme som agudo que ecoa dentro de min - tun’TUM, tun’TUM. Um som tão alto, tão...TÃO FORTE que sinto seu peso em meu peito.
Um sensação formidável, magistral, intuitivamente viciante e simplesmente inexplicável com um simples piscar de olhos.
tun’TUM, tun’TUM!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

As Palavras de um Anjo - PARTE I



“Isso é uma promessa!”, lembro-me até os dias atuais dessa frase, que tanto bombardeia minha mente. Era um passado distante, talvez dez ou quinze anos atrás; uma tarde de verão, com o sol radiando intensamente sobre a minha cabeça e a de Clarinha, minha eterna amiga. Estávamos em um descampado; era um dia quente e nos encontrávamos mui soados, por conta de nossas corriqueiras corridas.
“Isso é uma promessa, Dan!”, disse Clarinha, enquanto descansávamos sob a sombra de uma árvore. “Quando crescemos, casaremos. Eu e você”. É estranho e embaraçoso lembrar-se de uma promessa de casamento feito entre crianças de seus poucos anos, mas o sentimento que eu tinha para com ela era tão vivo, tão intenso, que parecia ser de adulto.
Lembro-me em seguida, como se tivesse acontecido no mesmo instante, eu partindo da pequena cidade de Jade, onde morava desde criança. Estava em um caminhão, olhando triste para trás, vendo Clara lacrimejar por minha partida. Ela gritava que iria me esperar, iria me esperar quanto tempo fosse, e que iríamos cumprir nossa promessa. Fiquei de correspondê-la todos os dias, entretanto, parti para uma longínqua cidade, o que me impossibilitou de revê-la durante dez anos seguidos.
E dez anos se passaram desde aquele fatídico dia que nossos destinos foram alterados por decisão dos pais de mudar de cidade. Eu cresci, e creio que Clarinha também cresceu. Hoje eu tenho dezenove anos, e voltei junto de meu amigo Stan ao meu berço, à minha cidade natal, a fim de reviver o passado. Não vim rezando encontrar com Clara – aquele dia modificou profundamente nossas vidas. Depois dele, apaixonei-me por outras mulheres, e imagino que a minha eterna amiga e primeira paixão estivesse namorando, ou apaixonada por outra pessoa. Era cruel trazê-la para o passado por um sentimento que morreu faz dez anos.
A cidade de Jade era pequena, com seus pouco mais de dez ou quinze mil habitantes. Era aconchegante, havia parado no tempo – o estilo de suas casas, vielas e tudo mais pertenciam ao início do século XIX – e possuía um estilo colonial. Era às margens de um pequeno córrego e, ao fundo, havia uma montanha, que davam um ar campestre à cidade. O povo da cidade era pacato e amigável. De tanto falar da minha cidade natal, Stan acabou por apaixonar-se por ela e, depois de muita insistência e paciência, conseguiu me convencer a vir com ele. De Jade até Cansul, onde morávamos, era longe e a viagem, de aproximadamente quarenta horas, era cara e cansativa.
Chegamos à pequena cidade por volta de dez horas da manhã, depois de mais de um dia sentado no ônibus. Nossas pernas e a base de nossas colunas estavam dormentes. Assim que nos levantamos, quase caímos – as nossas pernas não conseguiram nos sustentar, momentaneamente.
Saímos do ônibus que nos trouxeram até Jade e começamos a caminhar pela cidade. Stan já se encontrava maravilhoso com a pequena cidade, tão logo que a avistara.
- Nossa, Dan, sua cidade é muito linda! – disse. Caminhava vislumbrando cada pedaço da cidade.
Abri um sorriso.
Atravessamos a entrada de uma pequena viela, bastante íngreme. Como não poderia vir carros do lado e o mesmo era escuro e tenebroso, não demos bola. Stan continuava a vislumbrar a rua onde nos encontrávamos, enquanto eu apenas prestava atenção no que meu amigo dizia.
Stan havia acabado de atravessar a viela, e, como eu me encontrava logo atrás de meu amigo, era a minha vez de atravessá-la. Entretanto, para mudar todo o rumo de minha história, eis que surge um grito, um grito de desespero, vindo da viela. Um grito pedindo para alguém ter cuidado. Virei o rosto em direção à viela. Sobressaltei, tamanho meu susto. A toda velocidade, vinha uma garota, de seus, no máximo, vinte anos, descendo em sua bicicleta desgovernada. Poderia ter agido, tentado fazer alguma coisa, ou para desviar-me, ou para detê-la; contudo, o tempo foi-me pouco, insuficiente para tais manobras, e a bicicleta acabou por colidir comigo. Fui ao chão, junto da garota e da bicicleta. Ouvindo o estrondo da batida, Stan e todos os demais presentes no local pararam seus afazeres e fitavam o acontecido.
Com a queda, bati as omoplatas no chão e, assim, minhas forças se esvaíram do meu corpo momentaneamente. A garota estava sobre mim e fitava meu rosto. Tinha olhos esverdeados e suas bochechas estavam levemente coradas. Era incrivelmente bela e fitar essa beleza deixou-me enrubescido. Contudo, estranhamente, ao fitá-la, meu peito ardia furiosamente.
- Me desculpe! – disse a garota. Ao perceber que se encontrava sobre mim, tentou, de forma desesperada, se levantar. Saiu de cima de mim e se levantou. Tentei me levantar, entretanto, só consegui com a ajuda de Stan.
- Tudo bem, cara? – perguntou meu amigo
- Tudo. Só ralei um pouquinho!
- Mil desculpas! – disse a garota, envergonhada – Se eu fosse um pouco mais cuidadosa...
- Não se preocupe!
- Eu pago um café para você, como uma pedida de desculpas. E não aceito não como resposta! – disse a garota, de forma firme
O café onde eu e a garota nos sentamos era pequeno e tranquilo. Como era antes das onze da manhã de um dia de semana, o local estava vazio. Tomávamos uma pequena xícara de café, sentados frontalmente um com o outro.
- E suas costas? Como que está? – perguntou a garota. Ela preocupava-se com minhas costas, por conta de a mesma ter ralado no chão, retirando parte da pele e sangrando superficialmente
- Está melhor. Obrigado por estar preocupada comigo!
A garota sorriu enrubescida.
- O que aconteceu para você descer aquela viela a toda velocidade? – perguntei, a fim de puxar papo
- Foi o freio da bicicleta que quebrou no meio da descida... – disse
- Você estava indo a algum lugar... Parando aqui não te atrapalha em seus afazeres?
- Não se preocupe. Ia somente visitar meu irmão, mas tenho o dia inteiro!
- Visitar seu irmão?! – perguntei, mais por impulso que por razão.
- Sim, sim! – respondeu. Parecia melancólica ao adentrar naquele assunto – Meu irmão nasceu com câncer e ele está em tratamento no hospital.
Fiquei em silêncio. De tudo o que poderia imaginar, a resposta foi além. Contudo, não fiquei somente surpreso, mas senti uma vaga sensação de dejà vu.
Tentei formular uma frase que não parecesse que eu estava consolando-a; ela não mais precisava daquilo.
- Desculpa! Não sabia!
- Não se preocupe! – disse. – Não quero que pegue minhas dores! – respirou fundo. Queria retirar de seu coração aquela dor ali colocada por mim – E você? Estar aqui não te atrapalha? E tem seu amigo também, que está nos esperando.
- Não se preocupe. Estou apenas visitando a cidade junto dele. Temos o dia todo...
- Não é daqui? – perguntou a garota – De onde é?
- Então... – disse. Estava em dúvida se eu contava a uma estranha minha vida ou não – Eu sou daqui de Jade, mas saí ainda criança. Fui para outra cidade, longe daqui!
- Que maneiro... – disse. Estava feliz. Aquela conversa retirava por completo a melancolia do coração da garota, adquirida na conversa anterior – Tem um amigo meu que saiu daqui da cidade quando éramos criança.
- Sério?! – fiquei surpreso por saber que, em uma cidade pequena como aquela, havia outra história parecida com a minha – Que coincidência!
- Não é?! – disse a garota, sorridente. Parecia feliz. – Bom – continuou, se levantando. Levantei em seguida. – A conversa está boa, mas tenho que ir.
- Não está machucada? Precisa de ajuda? – perguntei.
- Não se preocupe – disse, enquanto nos deslocávamos para fora do estabelecimento – Estou de boa. Além do mais, estou indo ao hospital mesmo. Qualquer coisa, lá eu peço uns curativos! – disse, sorridente
A garota pagou a conta no balcão do caixa e saímos do local. Paramos na porta do estabelecimento, para nos despedirmos. Sentado na praça do outro lado da rua, Stan levantou-se ao nos ver, e caminhou em nossa direção.
- Bom – eu disse, virando-me em direção à garota – Prazer em lhe conhecer. Meu nome é Dan! – estendi a mão em direção à garota
- Dan?! De Daniel? – perguntou a garota, surpresa
- Sim, por quê? – perguntei, surpreso com a reação da garota
- Você me disse que mudou de cidade. Pra qual cidade você foi, que mal lhe pergunte? – perguntou a garota. De onde eu me encontrava, ouvia-se claramente o bater descompassado de seu coração
Eu não entendia bulhufas da reação da garota.
- Aconteceu alguma coisa?
- Desculpa, é que, em um momento, eu acreditei que...- ela parecia desesperada com a situação
- Tudo bem! – eu disse
- Ei, Dan, vamos... – disse Stan, perto do casal. Estava levemente irritado – Você sabe que eu já não aguento mais ficar sentado, e você me faz ficar mais sentado?
- Eu avisei que de Cansul até aqui é muito chão. Veio porque quis! – eu disse.
- CANSUL?! – gritou a garota, assustando-nos
- Sim, por quê?
- Dan?! – perguntou a garota. Seus olhos estavam cheios d´água e, assim, brilhavam intensamente. Seu olho cintilante e seu rosto corado fez-me voltar no meu passado.
- Clarinha?! – perguntei, de inopino. Stan assustou-se com minha reação.
- Dan... – Clarinha correu em minha direção e jogou-se em meus braços, dando-me um abraço apertado – Quanto tempo. – lágrimas começaram a escorrer de seus olhos – Senti tanta sua falta!
- Eu também!
Stan respirou fundo e disse, caminhando para longe do casal:
- É... já vi que isso vai demoraaaaaar!
Um descampado, às margens do rio que corta a cidade e no sopé de uma linda montanha. Tudo isso no meio da cidade. Era ali onde eu e Clarinha nos encontrávamos naquele findar da manhã. Queríamos colocar o papo em dia, e nenhum outro lugar em Jade seria mais nostálgico que aquele descampado, onde eu e Clara passamos intensos momentos juntos, quando crianças.
- Nossa... – disse Clara, enquanto se sentava no gramado – Nunca imaginei que fosse me sentar novamente aqui contigo, Dan... Você sumiu por tantos anos, que nunca consegui imaginar que fôssemos no rever!
Eu ri, rapidamente, enquanto me sentava.
- Morava muito longe. Depois, com o aparecimento e popularização da internet, não consegui te achar... – eu expliquei a ela
Clara sorriu e disse:
- E nem conseguiria. Não sou muito fã dessas coisas...
- Isso explica muita coisa, então! – brinquei. Rimos juntos.
Paramos de rir depois de alguns segundos.
- Mas, e aí, Dan. Conta. O que conta da vida? Temos muito papo para pormos em dia!
- Então... Eu agora estou fazendo faculdade...
- Sério?! – perguntou Clarinha, surpresa – Que massa!
Continuamos a conversar, sem percebermos o tempo passar, sem percebermos nada ao nosso redor, como sempre fazíamos quando crianças. Nem mesmo lembrei de que deixei Stan sozinho o resto do dia. Meu amigo deveria estar furioso comigo, mas ele entenderia depois de contar-lhe quem era Clara, na realidade.
Já havia se passado um incontestável número de horas. O sol já estava se pondo, no alto da montanha. Clara encostou-se em mim e fitávamos o pôr-do-sol.
- Nada como ver o pôr-do-sol desse local... – disse Clarinha
Eu assenti com a cabeça. Não conseguia parar de fitar minha amiga. Como ela se tornara bonita. Não que ela não era, quando criança; mas depois que cresceu, Clara tornou-se singularmente bonita. Tudo em seu corpo estava em perfeita harmonia, e dava-lhe um ar mais jovial; olhando para ela, dava-se a sensação de ela ser uma boneca, de tão perfeita que se tornara.
Alguns segundos depois de proferir sua frase, Clara virou o foco do seu olhar para o meu rosto, e pegou-me fitando-a. Entretanto, não enrubesci com o fato.
- Você está calado... aconteceu alguma coisa?
- Lembrando do tempo de criança! – eu disse. Estava nostalgicamente feliz.
Clarinha abriu um sorriso.
- Era tão bom aquele tempo, não era? – disse minha amiga, fitando meus olhos. Naquele instante, fitei seus redondos e cintilantes olhos verdes. Ficamos fitando um os olhos do outro durante alguns segundos. Em seguida, enquanto os fechávamos, chegávamos com nossas cabeças mais perto uma da outra. Cada vez mais perto, mais perto, mais perto... ficamos com nossas cabeças perto o suficiente não somente para sentirmos em nossas bochechas a respiração do outro, mas perto o suficiente para encostarmos nossos narizes um no outro... e não tão somente nossos narizes, mas também nossos lábios. E foi isso o que fizemos. Encostamos nossos lábios um no outro, e ficamos naquela incrível sensação durante alguns longevos segundos. Contudo, para o meu desagrado, repentinamente Clarinha abriu os olhos e percebeu o que havia feito. Desvencilhou-se de mim e, aparentemente irritada, deu-me um golpe com a mão aberta em meu rosto. Ainda surpreso com sua primeira reação, sobressaltei com a segunda.
- O quê...?! – tentava perguntar, com a mão sobre o local do golpe desferido por Clarinha
- Por que fez isso? – perguntou. Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Clarinha estava irritada com a situação.
- Não foi por querer. Eu... – eu tentava articular alguma coisa plausível, entretanto, não lograva êxito
- Não chegue perto de mim. Não quero te ver nunca mais! – gritou Clarinha, correndo para distanciar-se o mais rápido possível de mim
Eu fiquei parado, fitando Clara correndo a toda velocidade, entendendo bulhufas do que aconteceu.
Para piorar a situação, naquele instante, eis que surge uma chuva repentina.
Já havia passado das oito da noite quando cheguei ao quarto de hotel. Estava encharcado e, pior do isso, arrasado por dentro – a última situação era tão visível externamente quanto a primeira situação.
Stan estava sentado em uma das duas camas do quarto de hotel, assistindo TV tranquilamente, enquanto a chuva castigava a cidade do lado de fora. Ao me ver entrando, encharcado e melancólico, perguntou a mim:
- O que aconteceu, Dan?
- Não quero falar sobre isso! – eu disse, adentrando no quarto. Caminhava pelo local como um zumbi. Meu corpo estava no quarto do hotel, entretanto, minha mente continuava no descampado, duas horas antes. Não conseguia entender a reação de Clarinha, não conseguia entender, sobretudo, a minha reação. Por que a beijei? Vê-la como ficou fantástica foi o suficiente para eu beijá-la, ou tinha algo a mais?
- OK! Não vou continuar a perguntar... – disse Stan. Meu amigo parecia frio, mas ele me conhecia como ninguém, e sabia que forçar-me a falar deixar-me-ia irritado
O tempo passou como um relâmpago atravessando o céu. Dias e dias passaram-se rapidamente, enquanto eu ainda era corroído pelo remorso da minha atitude no descampado. Não conseguia compreender não tão somente a reação de Clarinha, mas, sobretudo, a minha de beijá-la. Foi a pior atitude que já pude fazer na minha vida.
Apresentei a Stan a cidade de Jade, expliquei as histórias dos lugares e parte da história de minha vida. Fingi que estava tudo bem comigo, mas queria acima de tudo encontrar-me novamente com Clarinha e redimi-me com ela. Contudo, durante quatro dias seguidos, não encontrei em nenhum momento com Clara. O destino estava sendo mui cruel comigo.
No quinto dia, atrevi-me a adentrar no hospital durante o período de visitas para tentar encontrar com Clarinha. Conhecia seu irmão, apesar da pouca idade que o mesmo possuía quando saí de Jade, e adentrei procurando seu quarto. Todavia, não logrei êxito novamente. Como Stan já havia combinado comigo de passar o quinto dia fora nas cachoeiras ao redor da cidade, aproveitei o mesmo dia para procurar Clarinha por todos os cantos da cidade. Comecei no hospital e, em seguida, passeei pela cidade a fim de encontrá-la. Por fim, pensei em bater na casa dela, mas a insegurança foi superior e acabei por não fazer. No findar da noite, ao lembrar-me de que iria embora da cidade no final do dia seguinte, arrependi completamente de ser tido covarde.
O último dia de minha estada em Jade havia chegado. Durante meu repouso noturno, veio à minha mente um sonho, constatando de que não estava aproveitando a minha tão sonhada viagem a Jade, depois de dez anos, por causa de um deslize de minha parte. Acordei disposto a aproveitar meu último dia. Stan e eu saímos logo pela manhã para tomar café da manhã no restaurante ao lado do hotel.
- Que bom que acordou disposto hoje, Dan. Já estava preocupado contigo! – disse Stan, enquanto escolhíamos no balcão do restaurante o que iríamos comer
Ri por alguns segundos e brinquei:
- Precisamos estar dispostos, a fim de aguentar quarenta horas de viagem!
Stan riu.
- Verdade!
Andava olhando Stan, a quem estava dirigindo a palavra, não olhando onde estava esbarrando. Acabei por esbarrar em alguém. Não a fitei a princípio, mas percebi, pelo som, que derrubei somente um talher.
Virei o foco do meu olhar de forma desesperada, pedindo desculpas. Ao fitar quem era, sobressaltei. Era Clarinha. Ao me ver, Clarinha irritou-se.
- Você... – disse, fechando o semblante
Clara rapidamente saiu de perto de mim. Stan nada entendia da situação, pois nada sabia do que ocorrera no descampado. Naquele instante, percebi minha chance de redimir-me partir novamente, e poderia ser a última chance. Quis aproveitá-la a todo custo, e acabei por segurei o braço esquerdo de Clarinha. Ela parou de andar, virou o foco de seu olhar para mim e perguntou, irritada:
- O que quer, Dan?
- Naquele dia, eu não quis... – sentia um pouco de vergonha de falar o que acontecera no descampado – Eu queria... – estava difícil formar uma frase, tamanho o nervosismo
Repentinamente, para surpresa minha e de Clarinha, seu celular tocou. Ela não sabia, mas, ao atendê-lo, saberia que seu destino mudaria para sempre, saberia que aquele 14 de janeiro seria marcado para sempre em sua vida, junto do telefonema.


Não deixem de ler a segunda parte desta História escrita por Douglas Andrade.

domingo, 25 de setembro de 2011

Éramos cinquenta

Éramos cinquenta. Apenas cinquenta pessoas que se organizaram em busca dos seus direitos como cidadãos. No final daquele dia, éramos um só corpo, formado por mais de um milhão de pessoas.

Aquele dia 24 de julho vai entrar para a história de nossas vidas, foi um dia que provou a todos que, quando quer, o povo é unido.

Tudo começou não naquela gélida manhã de sábado, mas sim muito antes. Quando? Praticamente na última eleição, quando o novo corpo parlamentar foi eleito, ou talvez no dia 1º de janeiro, quando este foi empossado. Não importa exatamente o dia, importa saber que estes novos parlamentares roubaram enquanto puderam de nós, do povo. Roubaram até o dia em que saiu uma bomba, uma reportagem nas principais emissoras de TV do país, alegando um enorme esquema de corrupção, que ia do Presidente da República ao faxineiro do palácio. Bilhões e bilhões de reais desviadas paras as gordas contas bancárias dos políticos, através do apelidado Presidenteduto, ou seja, o presidente foi o mentor do rombo aos cofres públicos.

Naquela noite, eu e mais uns amigos meus, todos estudantes indignados com o Presidenteduto, resolvemos dizer um "Basta!" e mostrar aos políticos de que o povo não queria mais somente "pão e circo" e que o povo queria um "Basta!" em tamanha corrupção.

Resolvemos nos unir em frente ao palácio presidencial na manhã seguinte, 24 de julho, um sábado. Fizemos cartazes vilipendiando a imagem dos políticos e chamamo-nos de tudo o que imaginar de chulo. Era hora de ir às ruas, e assim fizemos. Na manhã seguinte, encontramo-nos em frente ao palácio presidencial. Conseguimos reunir cinquenta pessoas, dispostas a manifestarem por horas e dias, se fosse necessário, até o Presidente da República pedir desculpas para o país em frente às principais emissoras, além de devolver nosso dinheiro. Sabíamos que era pedir demais, mas não podíamos deixar mais um escândalo passar impune.

E lá estávamos na manhã seguinte, em frente ao palácio presidencial, hasteando nossos cartazes e gritando "Fora, ladrões!", desde 8 da manhã. Éramos cinquenta, apenas cinquenta, mas, com toda certeza, éramos os porta-vozes de toda a população brasileira.

Depois de uma hora gritando e manifestando, já havíamos chamado a atenção das emissoras e de toda a população, não só da capital, mas de todo o país. Chamamos também a atenção de nossos parlamentares, que não estavam nem um pouco felizes com aquela situação.

Uma hora depois, não havia sequer uma resposta dos políticos, nem da polícia. Nesse momento, subi em um improvisado palanque e comecei a discursar. Era hora de incitar os manifestantes.

- Povo aqui presente, meu nome é José. José da Silva. Um nome comum, como de todos vocês aqui presentes. Um nome comum, dado a uma pessoa comum, como todos vocês. Pessoa comum, trabalhadora, que soa a camisa diariamente para colocar comida na mesa de minha casa, eleitor, como todos vocês, mas que já está cansado dessa roubalheira sem freio - os manifestantes foram se incitando diante das palavras por mim proferidas - Ninguém aqui aguenta mais tamanha roubalheira. Ninguém aqui mais aguenta os políticos roubaram o nosso dinheiro, conseguido com o suor de nosso trabalho diário, e ainda por cima esses miseráveis ainda zombam, ainda debocham de nossas caras. Eles acreditam que nós, o povo brasileiro, somos otários, que engolimos calado todos esses escândalos. Eles também acreditam que podem, em época de eleição, pedir nosso voto, que daremos. NÃO SOMOS BURROS. ESTAMOS CASADOS DESSA ROUBALHEIRA. QUEREMOS JUSTIÇA.

No momento em que citei a palavra "JUSTIÇA", ela se tornou a nossa voz. Em um coro, todos começaram a gritá-la, incessantemente. Gritamos até aparecer o chefe da polícia e dizer para os manifestantes:
- Seus vagabundos, vão trabalhar ao invés de ficarem aí, à toa. Vão estudar, vão tomar um rumo de suas vidas. Vão capinar uma horta, faz algo de útil, ao invés de ficarem aí, vagabundeando. Se realmente trabalhassem, não estariam aí vagabundeando. Dou-lhes meia hora para saírem daí, ou prenderei a todos.

As palavras do chefe de polícia, ao invés de intimidar os manifestantes, deixaram-nos mais incitados. De forma uníssona, os manifestantes começaram a vaiá-lo, abafando qualquer palavra que ele ousasse proferir naquele momento. Entretanto, quando eu peguei para falar, todos se silenciaram. Eu estava no comando dos manifestantes. Virei para o chefe da polícia e disse:

- Estamos no exercício de nossa cidadania. Não somos obrigados a obedecer sua ordem. Não é legítima - o povo me aplaudiu, deixando o chefe da polícia mais irritado que antes - Podemos fazer manifestações como bem nos aprouver, e é indigno que você ou qualquer outro faça o que está fazendo. Se é capacho dos políticos, não é problema nosso - a incitação dos manifestantes chegou em seu auge - Não estamos depredando nada. Você não pode nos prender.

Houve, em seguida, um imenso aplauso.

- É o que veremos! - disse o chefe de polícia, enquanto se retirava, sob uma intensa vaia

Continuamos por ali, durante meia hora. Ninguém ficou temeroso diante a ameaça da polícia. Pelo contrário. Estávamos confiantes, confiantes de que tudo era somente um blefe.

9 horas e 30 minutos daquela gélida manhã de 24 de julho. Continuávamos firmes em nosso objetivo, firmes e filmados, porque estávamos em todas as emissoras de TV, que vira e mexe dava plantão sobre aquela manifestação. Mas o que estava por vir foi além de um simples plantão de emissora de TV.

Naquele trigésimo minuto da nona hora daquele sábado estamos uma pesada cavalaria, literalmente falando, se aproximar da gente. Olhamos, estupefatos. Foi quando vi a repressão cavalgando, literalmente, em nossa direção. Lembrei-me dos meus pais contando seus dias na época da ditadura, o calar da força opressora em cima dos cidadãos. E, naquela manhã de 24 de julho, a ditadura estava mostrando que seus resquícios ainda perambulavam pelo Brasil.

Vinha uma enorme cavalaria em nossa direção. Armados de cassetetes, a polícia estava disposta a nos enxotar daquele local de toda maneira. Assim que vimos a cavalaria, largamos nossos cartazes e saímos correndo. "A polícia havia vencido a manifestação e os políticos continuariam no poder, nos roubando a cada dia. Seríamos considerados baderneiros, pessoas contrários à ordem social e política do país e os ânimos da população logo se acalmariam", esse era o meu negativo pensamento daquele instante.

Os manifestantes se dispersando rapidamente, como formigas. Mesmo dispersados, correndo como loucos, os policiais ainda corriam em nossa direção. Eles queriam nos prender a todo custo, principalmente a mim, que era o cabeça da manifestação.

Consegui fugir da polícia durante cerca de dez minutos, mas acabei sendo pego. O chefe da polícia, a cavalo, em derrubou com um golpe de cassetete na nuca. Caído no chão, tentei me arrastar, já que o golpe arrancara momentaneamente minhas forças para andar. Entretanto, o policial desceu do cavalo antes que eu conseguisse fugir dele, e ele começou a me surrar, enquanto dizia:

- Pensou que fosse fugir? Você me deu trabalho. Mas agora acabou. Eu vou te prender, e vou te surrar tanto, que você vai pedir para nunca ter nascido.

O chefe da polícia começou a me surrar. Estava perdendo a consciência. Contudo, por sorte minha, um dos cinegrafistas presentes estava próximo a mim e filmou a cena de violência e as vociferações do polícia. E aquela imagem, passada ao vivo para toda a nação, causou o ódio geral da população.

Depois de minutos e minutos de surra, o policial me levou para ser preso. Eu estava um bagaço, a bochecha e o olho esquerdos estavam inchados. Meu nariz e boca sangravam, minhas costelas doíam horrores e eu estava cheio de hematomas pelo corpo. Não conseguia fazer absolutamente nada, só escutar e enxergar, com o resto de minha consciência. Percebi que meus amigos também apanharem bastante, menos do que eu, o cabeça da manifestação, mas todos os cinquenta manifestantes foram surrados. Estávamos sendo colocados nos camburões, quando escutamos alguém chamar no rádio da polícia, desesperado:

- Viatura 22, viatura 22... Solicitação de todas as unidades no centro da cidades. Urgente! A população está nervosa, tomou os principais postos da cidade - Correios, hospitais, universidades e escolas, e está depreciando tudo. Não temos mais como parar esse quebra-quebra. Solicitação urgente de reforços!

Naquele momento, percebi que minha manifestação, a ação da população e, talvez o principal, as surras, não foram de tudo em vão. A cena da polícia oprimindo de forma violenta uma mera revolta popular, de cinquenta pessoas, completamente desarmadas, incitou a população, que rapidamente lembrou-se da era negra da ditadura.

Éramos cinquenta. No final daquele dia, éramos um só corpo e uma só voz, uma voz que gritava "Basta!"

sábado, 24 de setembro de 2011

Sobre um conto...


É inevitável o sentimento aversivo quando você percebe que alguém faz algo diferente de você, ou propriamente seja diferente de você.
As coisas se constroem sobre pilastras insólitas. A confusão te permeia profundamente enquanto você tenta não exprimir a sua deploração mental! Desse jeito eu sei que, o convívio com as pessoas - mesmo muito queridas - nunca é fácil. A solidão que me assola, a falta que sinto de alguma coisa que não se explica e a complicação das escolhas de toda a vida, criam em meu peito um abismo colossal que precisa ser preenchido de alguma forma, alguma boa forma que me faça sorrir e esquecer meus problemas por alguns minutos! alguns poucos segundos.
A minha estória não é única e por isso eu tenho a esperança de encontrar algo que me conforte em você. Não quero nada além de atenção, um parceiro de fala, um amigo para me ouvir e saber me ajudar. Eu sei que isso pode parecer muito pra você, ou até mesmo muito pouco, mas é isso. Não preciso de nada além. Me valorizo. Aquém também não me interessa. Preciso de você na medida. Só isso!
Comigo não tem meias palavras, pouca atenção ou frieza. Sei que, com todas as minhas dúvidas, quero sempre o melhor pra mim – mesmo não sabendo ao certo qual o melhor caminho.
Tenho que desabafar. Não sou bom com palavras, por isso eu quero que não me leve a mal. Peço desculpas por tudo que disse e às vezes não ter feito o menor sentido pra você. A minha dor não precisa ser retida, posso compartilhar com você. Eu sei!
Quando me abro com você me sinto em paz, sei que você me entende. De qualquer forma, não sei o motivo de te escrever isso. A minha posição é a mais natural diante de qualquer fato. Eu gosto muito de saber o que as pessoas estão pensando para que eu possa entender meus pensamentos.
Com todas as minhas conclusões, eu só consigo me lembrar de uma. Eu sou amigo. Amigo sabe ajudar, sabe ouvir, sabe pedir ajuda. Minha mente transcende meu corpo. Minha aura ultrapassa meu cosmo e eu só consigo pensar no que eu ouvi.
Reflexão. Esta palavra mudou minha vida nesses dias.

domingo, 18 de setembro de 2011

A história de dois garotos e um homem pobre

Neste vídeo Gordon B. Hinckley conta uma história de dois garotos que transformaram um dia comum em algo para ser lembrado para a vida inteira.


Gordon Bitner Hinckley nasceu em 23 de junho de 1910 em Salt Lake City. Além de empresário e escritor, foi o décimo quinto presidente da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos últimos dias. Durante seu tempo como presidente a igreja aumentou consideravelmente o número de templos. Ele também iniciou o Fundo Perpétuo para a educação que provê empréstimos educacionais para estudantes em países em desenvolvimento. Gordon Bitner Hinckley morreu de causas naturais no dia 27 de Janeiro de 2008, aos 97 anos, em seu apartamento.
Fonte:wikipédia

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Mamonas Assassinas



Foram pouco mais de sete meses muito intensos para os cinco integrantes de uma banda formada em Guarulhos. Os Mamonas Assassinas atingiram as paradas de sucesso de todo o país com um modo bastante característico e uma receita infalível para qualquer momento de tristeza: uma grande dose de bom humor.
A Banda era composta por Alecsander Alves (Dinho) no vocal, Alberto Hinoto (Bento Hinoto) na guitarra e violão, Samuel Reis de Oliveira, (Samuel Reoli) no baixo, Sérgio Reis de Oliveira (Sérgio Reoli) na bateria e Júio César(Júlio Rasec) nos teclados, backing vocals e vocais. Através de um show em uma boate em Guarulhos (SP), conheceram o produtor Rick Bonadio (jurado do Ídolos) e desde então saíram em uma imensa turnê pelo país, apresentando-se em programas como Faustão e Domingo Legal.
O sucesso era tanto que a gravadora EMI faturou cerca de R$ 80 milhões com a banda. Em certo período, a banda vendia 100 mil cópias a cada dois dias, muito diferente das bandas de hoje. Mas o fim estava próximo. Na volta de um show realizado em Brasília, o avião que os transportava sofreu um terrível acidente, matando todos os integrantes. O país parou para se despedir de uma das maiores bandas do rock nacional. Até hoje várias músicas deles são tocadas e ovacionadas por todo o país.
Logo abaixo estão dois vídeos. O primeiro foi uma entrevista dos Mamonas concedida à MTV e o segundo é o vídeo-clip da música Pelados em Santos.


Entrevista MTV


Pelados em Santos


Saudades eternas.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Solidão


Um certo dia, eu acordei
Ao me olhar no espelho
Percebi que fiquei mais velho
Mas será que mais velho fiquei
Por que o dia de ontem passou
Ou por que sozinho estou?

Indago-me a cada passo que dou
Na vã estrada da solidão
Se os deuses nunca olharam um pouco para mim

Indago-me ainda
Na doce desilusão na qual me encontro
Se um frágil raio de luz
Não poderia iluminar meu caminho

Solidão
A mais triste das palavras
O estado que eu me encontro
Perdido numa porção de pensamentos
Que não se ligam

Solidão
Mais podre das palavras
Me contagiou
Naquela manhã, naquela ensolarada manhã
Quando nos separamos eternamente

A cada dia, eu vejo seu reflexo no espelho
O espelho cujos reflexos são amargas dores
E escuto sua voz, cálida voz
E sinto seu perfume, doce perfume

Sentado estou, em frente ao espelho
Mas meus reflexos não chegam até mim
Porque cego estou por causa da solidão
Única coisa que meu reflexo reflete
É o reflexo de minha amada
Cuja forma existe apenas
Em forma de imagem

Faça-a voltar, faça-a voltar, faça-a voltar
Dor no coração estou
Caio de joelhos para pedir súplica

Me encontro no mais profundo desespero
Neste fechado recanto
Minha alma eu prendi
E a chave se encontra
No meu pensamento, no meu mais profundo pensamento
Sem seu cálido sorriso, cálido sorriso, cálido sorriso

Louco estou
Louco por querer tê-la de novo
Em meus braços
E dar-lhe abraços
Seu coração pulsando, seus pulmões respirando

Faça-a voltar, faça-a voltar, faça-a voltar
Ó deus poderoso,
Faça-a voltar
Para finalmente eu conseguir
Achar a chave para poder sair dessa solidão
Sublime e obscura solidão

domingo, 11 de setembro de 2011

11 de setembro de 2001



Há exatos dez anos, na manhã do fatídico dia 11 de setembro de 2001, quatro aviões, sequestrados por terroristas, chocaram-se nas Torres Gêmeas, no Pentágono e o quarto foi supostamente abatido, gerando, assim, o MAIOR ATAQUE TERRORISTA QUE A TERRA JÁ VIU. Será mesmo?
Naquela manhã, quase 3000 pessoas inocentes morreram em virtude de uma ação fundamentalista, provocada supostamente pela Al-Qaeda, comandada na época por Osama Bin Laden. Que 3000 pessoas inocentes morreram de uma só vez é tragédia, é inquestionável. Que foi um ataque terrorista que repercutiu no mundo inteiro, também é. Mas o MAIOR ATAQUE TERRORISTA?! Houve tantos ataques terroristas pelo mundo, inclusive feito pelo próprio USA, como, por exemplo, das bombas atômicas de 6 e 8 de agosto de 1945, destruindo, respectivamente, Hiroshima e Nagashaki. Naqueles ataques, foram mais de 350 mil mortos, mais um sem-número de feridos e de consequências advindas daqueles ataques. Este sim poderia ser considerado o maior ataque terrorista, e não um ataque que derrubou um par de torres. É assim qualificada por se tratar do símbolo de poder dos EUA, que acaba por influenciar a mídia dos outros países...
Mas lembre-se, acima de tudo, aquele 11 de setembro foi apenas a vingança dos povos que sofreram os mesmos ataques dos EUA - Vietnã, Japão, e por aí vai