segunda-feira, 31 de outubro de 2011

No meio do caminho tinha uma pedra


Hoje é dia 31 de outubro de 2011, o Dia D, Dia de Carlos Drummond de Andrade, nascido há exatos 109 anos. E, em homenagem a essa data, falaremos sobre uma de suas obras mais conhecidas e enigmáticas: "No meio do caminho" (de uma forma cômica, claro!)

"No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra "

O tempo que Drummond gastou escrevendo que tinha uma pedra no meio do caminho, ele poderia ter retirado a pedra e ter ido embora. Aliás, pedras que encontrarmos no meio dos nossos caminhos são tão pequenas que nem precisam retirar, é só passar por cima. E nem causa algo de diferente na gente, a menos que entre nos nossos sapatos. Se o poema ainda fosse: "Dentro do meu sapato tinha uma pedra, tinha um pedra dentro do meu sapato", a pedra faria alguma diferença na vida da pessoa. Ou será que Drummond pisou em uma pequena pedra que se encontrava no meio do seu caminho e machucou seu pé e, em sua homenagem, resolveu eternizá-la em seus versos? Se for, imagina hoje o preço que seria pra adquirir essa pedra, que se tornara tão famosa.

E como seria essa poema, em uma versão extremamente culta? Acho que seria mais ou menos assim:

"No mear do meu percurso tinha um óbice de formato rochoso

tinha um óbice de formato rochoso no mear do meu percurso

tinha um óbice de formato rochoso

no mear do meu percurso tinha um óbice de formato rochoso


Jamais me olvidarei desse evento

na vida de meus receptáculos de imagens tão fatigados

Jamais me olvidarei que no mear do meu percurso

tinha um óbice de formato rochoso

tinha um óbice de formato rochoso no mear do meu percurso"

Parece-me que, no final da poesia, Drummond conseguiu se livrar da maldita pedra e foi embora feliz pra sua casa. Sabe por quê? Por que, se não tivesse conseguido se livrar da pedra, assim seria seu texto:

"No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra

E agora, José?"


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