domingo, 9 de outubro de 2011

Dias de dor de barriga

Todo dia é igual ao outro, você sempre reclama. Mas aquele dia que, no meio de sua estada na rua, resolve te dar aquela dor de barriga, você daria todos seus bens por aquele dia ser igual aos outros.
Tudo começa com aquela dorzinha localizada, logo acima da virilha e que depois vai se espalhando. Quando essa dorzinha começa a se espalhar, é sinal de que seu próximo destino será um banheiro. Mas não pode ser qualquer banheiro, tem que ser o banheiro de sua casa, logicamente. E você vai correndo de onde você se encontra até sua casa segurando-se para não fazer merda na rua, literalmente falando.
O caminho do local onde se encontra até sua casa é um martírio, um sacrilégio. Pelo menos, é quando você tem que sair correndo, segurando sua retaguarda para que a válvula de escape não funcione, por assim dizer. E você vai andando. Andando, não, correndo, porque ninguém anda nessas horas. Aliás, você também não pode correr, para que a válvula de escape não funcione erroneamente. O certo é dar passos rápidos e certeiros, sem andar devagar demais, nem correr. É uma corrida contra o tempo, a menos que queira ter sua imagem suja por um bom tempo. A imagem, e as calças...
Quando você está apertado para ir ao banheiro na rua é que você percebe como mora longe. Você pode morar do lado do local onde você se encontra, que sua casa ainda será longe. E cada segundo é precioso. Você vai andando acelerado, uma força descomunal na área da válvula para nada escapar. E como é impressionante que nessas horas aparecem milhares de pessoas para conversas. Aquelas pessoas que todo dia passam por você e só cumprimentam resolvem puxar conversa. Até parece que fazem de sacanagem... Emprestar o banheiro de suas casas que é bom ninguém faz, ajudar a segurar muito menos. A única coisa que eles seguram é você, para você não ir para casa. Como se já não bastasse sua casas estar longe...
A hora que você vai chegando à sua casa é pior, parece que sua cabeça sabe que sua casa está perto e manda recado para a válvula, avisando que é chegada a hora. Infelizmente, o recado chega cedo demais e você acaba tendo que dobrar a força na região para nada escapar.
Da hora que você abre o portão até a hora que você chega ao banheiro e abre a roupa são os momentos mais tensos. Você até soa, não de correr, mas sim de segurar. E quando você chega em sua casa, louco para entrar no banheiro e o mesmo está ocupado? E pode esmurrar a porta, ajoelhar pedindo pelo amor de Deus para a pessoa sair, que ela não sai, como se ela resolvesse fazer tudo o que pudesse justo naquele momento, como se também estivesse para zoar com sua casa. Até lalaricas, se deixar, a pessoa faz, justamente no momento em que você precisa entrar no banheiro. E você começa a se derreter em suor, anda de um lado para o outro, rodeando a porta do banheiro, em puro desespero. Quando a maçaneta da porta do banheiro mexe, você precisa até dobrar a força para se segurar. O corpo sabe que é chegada a hora. Aí é só correr em direção à sua felicidade, ou, pelo menos, ao seu alívio.
O último instante é o mais tenso. O corpo está no ápice, ensandecido, louco para eliminar tudo o que tem de direito, e você, desesperado, abrindo o zíper da calça e abaixando a roupa. É preciso muita força para não sujar o banheiro.
No final da história, tem-se uma cueca borrada (é impossível segurar a válvula de escape todo esse tempo sem nada liberar), uma privada lotada e um alívio no peito de um cidadão, que passou por um aperto do cão.
E não adianta ficar irritado ou tímido com o texto, que todo mundo já passou um dia de dor de barriga, pelo menos uma vez na vida...

Nenhum comentário:

Postar um comentário