sábado, 15 de outubro de 2011

As Palavras de Um Anjo - Parte III



Não deixe de ler a primeira parte desta história escrita por Rodrigo Picon antes de continuar.

- COMO É QUE É?! – gritou Stan, do outro lado da linha. Estava surpreso em demasiado, e quase fiquei surdo com seu grito. Sabia que Stan ficaria daquela forma ao lhe contar a minha insana ideia.
- Foi o que você ouviu! – eu disse. Tentava me mostrar sereno, mas até eu sabia da insanidade de minha ideia
- Você está louco, Dan? Sabe que não pode fazer isso, ou vai comprar briga com todo mundo de Jade. E vai acabar arrumando briga para a pobre da menina.
- É a única solução, Stan. Não vejo outro jeito de ajudar! – eu disse. Segurava para não transparecer minha melancolia, contudo, não consegui segurar minhas lágrimas, que insistiam em sair de meus olhos
- Não é só porque o caso é desesperador, que precisa fazer isso. Além de imoral, isso é ilegal, Dan. E foi você mesmo que me contou como o povo de Jade é nessas questões. Vai deixar a pobre menina mal vista pela cidade.
- Você não entende, Stan...
Percebi Stan respirar fundo do outro lado da linha.
- Eu sei que você quer ajudá-la, Dan, mas pense bem no que está fazendo. Ou você pode se arrepender amargamente no futuro! – disse, mais calmo
- Não tem outro jeito...
Percebi Stan respirar fundo novamente.
- OK, você é quem sabe. Espero que saiba o que está fazendo!
- Eu sei, Stan, eu sei. Eu sei mais do que todo mundo...
Despedimo-nos um do outro e desliguei o telefone. Joguei meu corpo exausto sobre uma das duas confortáveis camas do quarto, lado a lado ao aparelho telefone. Fiquei inerte, fitando o teto do recinto por longos segundos, enquanto pensava. Depois da conversa com Stan, hesitei-me em realmente ajudar Clarinha daquela forma. Todavia, quando terminei meus pensamentos, revigorei minha ideia. Agora era preciso colocar em prática, o que era a parte mais difícil.
Respirei fundo, levantei meu corpo da cama e tomei a posição de sentado, ainda no mesmo lugar. Peguei o telefone, disquei alguns poucos números. Chamou por algumas vezes, antes de alguém atender.
- Alô? – disse alguém, do outro lado da linha
Engoli em seco. Era necessário agir, naquele instante.
- Olá... Poderia falar com o Sr. Carlos Albuquerque?
Era manhã do dia seguinte. Minha estada por Jade já ultrapassara o tempo limite, e eu precisava retomar minha vida em Cansul, entretanto, não podia, simplesmente, largar Clarinha no estado em que ela se encontrava. Não de novo.
Tão logo findei meu desjejum, parti em direção ao hospital, a fim de encontrar Clara e dar-lhe as boas novas. Por mais inacreditável que fosse, o plano havia dado certo. Só faltava agora a última parte, Clarinha aceitá-lo. Não seria uma tarefa fácil, principalmente por não ter conseguido convencer nem mesmo Stan, que se encontrava do lado de fora do turbilhão.
Cheguei ao hospital. Clarinha andava desordenadamente pelo hospital, aflita. Queria que tudo acabasse logo, não aguentava mais passar por aquela desgraçada situação. Tão logo minha amiga me vira, correu em minha direção e abraçou-me. Fui pego de surpresa, não esperava ser abraçado tão calorosamente por Clara, por isso a demora em lhe responder. Quando percebi que a minha amiga debulhava em meu ombro, desesperei e logo lhe perguntei:
- Aconteceu alguma coisa?
Temia o pior. Entretanto, felizmente, o pior não veio.
- É tão bom vê-lo... Preciso muito de um amigo para me apoiar!
- Você confia em mim? – perguntei, de inopino. Não parece ser uma resposta à sua frase proferida, e aquilo acabou por surpreender momentânea Clarinha, que se desvencilhou de mim, e fitando meus olhos, perguntou, levemente assustada com minha indagação:
- Por quê?
- Eu tenho uma boa notícia, mas preciso que confie em mim!
- Fala!
Respirei fundo, engoli em seco e disse:
- Eu convenci meu pai a ajudar seu irmão no tratamento! Se você assim desejar, seu irmão tratará no melhor hospital de oncologia do país!
As minhas palavras soaram como um filme de terror em Clarinha, tamanho fora sua surpresa no findar de minha frase.
- SEU PAI?! – gritou. Ao perceber se encontrar em um hospital, baixou o tom de voz: - Seu pai?! Você sabe não quero envolvê-lo nisso!
- É a única coisa que eu posso fazer, Clarinha.
- Sabe que o povo de Jade não vai gostar muito de saber que fui ajudada pelo seu pai!
- Meu pai não usará a profissão para lhe ajudar, usará dinheiro dele próprio!
- Sabe que, para o povo daqui, isso tanto faz...
- O que é mais importante: uma má reputação momentânea ou a vida do seu irmão?
Aquela frase minha soou como uma facada no peito de Clara. A minha amiga hesitou por alguns segundos, pensou, pensou, e eu nada fiz para forçá-la a acelerar sua decisão. Esperei, e esperaria por quanto tempo fosse, ela tomar sua decisão.
Clara respirou fundo. Não estava gostando da ideia de tomar aquela decisão, entretanto, percebeu ser necessário. A vida de seu irmão era mais importante que qualquer coisa em sua vida.
- OK! Eu aceito! – disse. Tentou ser o mais breve possível.
Um sorriso estonteante apareceu em meu semblante, e logo por ali reinou.
- Avisarei os médicos para começar os procedimentos de transferência. Ela ocorrerá em 24 horas!
Clara estava cabisbaixa. Ainda não aceitava a ideia de ser ajudada por meu pai.
- Está certo – ela disse
- Tenha fé, Clarinha. Tenha fé.
Saí do local a fim de começar os procedimentos de transferência.
O dia havia se passado como um vendaval, tamanha sua velocidade. Já era o cair da tarde e eu, exausto, me encontrava deitada em uma espreguiçadeira, à beira da piscina do hotel, lendo um bom livro. Eu me encontrava demasiadamente feliz por ainda ter alguma esperança de o irmão de Clarinha sair vivo.
Entretanto, o restar do meu dia não seria tão feliz como aquele findar da tarde. Eis que meu celular, que se encontrava ao meu lado, tocou. Peguei-o e atendi, sem nem mesmo ver o número. Naquele instante, meu coração gelou; pensei ter acontecido algum problema nos procedimentos de transferência, que a mesma teria de ser cancelada. Lego engano.
- Boa tarde! – disse a pessoa do outro lado da linha. Parecia sério, e aquilo gelava ainda mais o meu coração
- Boa tarde. Em que posso ajudá-lo?
- Sou médico do hospital da cidade de Jade. Com quem eu falo?
- Daniel!
- Pois bem, senhor Daniel, é o senhor mesmo com quem desejo falar!
- Aconteceu alguma coisa?
- Sim! – respondeu. Meu coração apertou-se em meu peito. - Estou aqui para avisar do falecimento do garoto Eduardo Henrique de Almeida.
Naquele instante, fiquei estupefato. Meu coração gelou e uma melancolia incomensurável tomou conta do meu corpo e logo por ali reinou. Não consegui acreditar que, mesmo depois de tudo o que fizemos para salvá-lo, ele havia falecido.
Ao perceber meu silêncio do outro lado da linha, o médico disse:
- Meus sentimentos!
Precisava mostrar-me sereno, não só para o médico com quem eu conversava no telefone, mas precisava para Clarinha, senão não conseguiria ser-lhe um apoio para aquele momento tão difícil.
- Só não entendo uma coisa... por que ligou para mim avisando, e não para a irmã dele? – perguntei, tão logo essa dúvida apareceu em minha mente
- Ela se encontrava no hospital quando do falecimento de seu irmão. Como ela correu tão logo tudo aconteceu, achei melhor avisar a alguém na cidade. Ao procurar por familiares, percebi estar somente o número do seu celular.
- OK, obrigado por me avisar. Eu vou procurar por Clara. – disse. Despedimo-nos e, em seguida, desliguei o celular. A minha mente ainda não conseguia acreditar na ideia de que o irmão de Clarinha havia falecido.
Clara estava de pé em uma grande rocha e debulhava as mais sinceras lágrimas. À sua frente, um gigantesco vão, de mais de setenta metros de altura, onde se encontrava a cidade de Jade. Logo atrás, um paredão, onde se dava para chegar o alto da montanha.
- Finalmente te encontrei! – eu disse. Ofegava; a trilha para chegar ao local era mui íngreme e, no iniciar da noite, transformava-se em igualmente perigosa
- Como me encontrou?
- Sou seu amigo de infância, Clarinha! – eu disse, enquanto caminhava em sua direção
- O que faz aqui? Deixe-me em paz! – disse, ríspida
- Fiquei sabendo do acontecido! – eu disse, parado a cerca de cinco passos de minha amiga
- Se veio me consolar, pode ir embora.
- Não vim te consolar.
- Acabou, Dan. Não tenho mais como viver. Não tenho mais ninguém nesta vida!
- Você tem a mim, Clarinha!
- Deixa de conversa, Dan... logo, logo você volta para Cansul e vai me largar aqui sozinha!
Clarinha deixou-me em completo silêncio; não havia argumentos a dizer naquele instante.
- Mesmo assim, arrancar a própria vida já é demais!
- E de que adianta viver, prolongar esse sofrimento...
- Acha que é assim, que vai morrer e pronto? É tão egoística a sua atitude!
Clara surpreendeu-se com minha frase e emudeceu.
- Você quer morrer para se eximir do fardo de aguentar o restar dos seus dias a dor da perda do seu irmão, mas já passou pela sua cabeça que a sua morte gerará o mesmo sofrimento nas demais pessoas? E pior, seu irmão morreu porque assim Deus quiser, por uma fatalidade, por culpa da própria natureza, mas por pior que ele se encontrava, ele sempre foi forte e esperançoso, sempre acreditou que conseguiria viver daquela forma... um fardo todos nós carregamos, mas a diferença entre um vitorioso e um derrotado, um forte ou um fraco, é saber se conseguimos viver carregando por toda nossa existência esse fardo ou não...
Deixei novamente Clara emudecida. Entretanto, naquele instante, julguei não ser necessário continuar atacando-lhe com palavras de efeito, mas sim emudecer-se de forma idêntica a ela e esperar sua decisão.
Para minha surpresa – e felicidade -, Clara virou-se em minha direção, ainda com os olhos inundados de lágrima e correu até mim, jogando-me em meus braços. Em seguida, debulhou-se novamente em lágrimas.
- Obrigada! Obrigada por me fazer ter esperança!
- Agora vamos sair deste lugar perigoso e vamos para casa! – eu disse
- COMO É QUE É?! – perguntou Stan, aos berros, do outro lado da linha. Parecia que eu tirei o dia para dar notícias surpreendentes a meu amigo
- Infelizmente, é o que você ouviu! – eu disse. Estava deitado em uma das camas do quarto de hotel onde eu me encontrava hospedado
- Que ruim, cara... – disse Stan – E nem deu tempo de usar a ajuda concedida pelo seu pai!
- Pior que é verdade.
- Já avisou a ele?
- Sim, avisei-o tão logo saí do penhasco...
- Penhasco?!
- A Clarinha estava no lugar onde ficávamos quando criança! – assim disse para ele
- Entendo... – percebi que Stan não engolira completamente a história – E seu pai? Como ele reagiu?
- Como de sempre... – respondi, seco – Parecia até que a culpa da morte do menino foi minha!
- Imagino... – parou por alguns instantes – Bom, obrigado por ter me avisado! Manda meus pêsames para Clarinha...
- Mandá-lo-ei! Pode ficar tranquilo!
Despedimo-nos e, em seguida, desliguei o celular. Larguei-o ao meu lado e comecei a fitar o teto do recinto. Divagava, pensava no que eu faria dali em diante, principalmente em relação à Clarinha, que agora se encontrava solitária.
Não percebi em que momento que aconteceu, mas adormeci naquela posição, e acordei no soar do despertador meu celular, logo no início da manhã. Levantei-me da cama e parti em direção ao banheiro. Iria tomar banho, me arrumar, descer ao restaurante para fazer meu desjejum e, em seguida, ir ao enterro do irmão de Clarinha. Queria evitar a todo custo este doloroso momento de despedida, mas era necessário, e não dava para adiá-lo.
Cerca de uma hora, uma hora e meia depois, cheguei ao local onde seria o velório do irmão de Clara que, diga-se de passagem, era a antiga casa do garoto. E como mudou a casa nesses anos que eu não a frequentei. O local cresceu, novos cômodos foram incorporados, havia móveis novos em praticamente todos os cantos da casa... nem parecia a mesma casa por mim frequentada quando criança.
Tão logo eu adentrei no local, que já se encontrava cerca de dez a quinze pessoas, Clara, que se encontrava sentada ao lado do caixão aberto, levantou-se e caminhou às pressas em minha direção. Abraçou-me forte e agradeceu, no pé do meu ouvido, por minha presença, antes de debulhar em meus ombros. Afaguei seus cabelos. Precisava ser seu apoio naquele momento difícil, e eu seria.
Fiquei ao lado de Clara por toda manhã, servindo-lhe de apoio moral. No findar da manhã, segui o cortejo até o cemitério, onde ocorreu o enterro do garoto. Clara ficou até depois do enterro, quando todos já haviam partido do local. Sentara-se ao lado do túmulo de seu irmão e lá se encontrava desde o momento em que os coveiros fecharam a sepultura.
- Vamos? – perguntei. Sentia-me desconfortável estando sozinho em um cemitério vazio
- Já vou. Deixe-me aqui só por mais alguns minutos. Por favor! – ela disse
Sentei-me ao lado dela, sem nada dizer. Ela virou o foco do olhar para mim, e ficou me fitando por alguns segundos. Sentindo-me embaraçado diante a situação, perguntei, sorrindo timidamente:
- Quer falar alguma coisa?
- Queria agradecer! – disse, com um sorriso tímido no rosto – Você sempre foi meu apoio moral! – ela disse, estendendo a mão para mim. Segurei-a e afaguei-a por alguns segundos. Como era macia sua mão, e como era gostoso tê-la entre meus dedos.
- Você sabe que sempre pode contar comigo!
- Você é meu anjo, Dan. Um anjo que eu sempre carregarei aqui – apontou para o seu coração – no meu coração. Você só pode ser meu anjo da guarda. Quem mais faria tanta coisa por uma pessoa?
Meu coração estava a mil naquele instante. Sentia a necessidade de dizer a ele algo que nunca tivera coragem nestes tantos anos que nos conhecemos.
Engoli em seco e disse:
- Um apaixonado, talvez.
Naquele instante, envergonhei-me diante à minha ação. Senti-me um tolo por ter proferido aquelas palavras.
- Desculpa, eu não quis... – tentei consertar de imediato
Entretanto, já era tarde demais. Clara escutara com perfeição minhas palavras e percebi que a mesma se encontrava estupefata.
- Eu... não... sabia!
- Desculpa não ter te contado antes! – eu disse. Fiquei cabisbaixa e virei o rosto para que minha amiga não fitasse meu rosto
- Eu... não... – lágrimas voltaram a tomar conta de seu rosto. Correu, tendo um impulso inicial inimaginável. Fui pego de surpresa; quando a ação de Clara foi processada em minha mente, a mesma já se encontrava demasiadamente longe.
- Clarinha! – gritei, apenas
Levantei-me e corri atrás dela, enquanto atravessávamos a passos largos o cemitério.
- O que aconteceu, Clarinha?
- Não é nada! – respondeu. Percebi, pelo seu tom de voz, que se encontrava debulhando em lágrimas
- Conte-me. Sabe que quero te ajudar!
- Acabou, Dan. Acabou!
A frase de Clarinha surpreendeu-se. Como assim, Acabou?!, me perguntei. Mil perguntas apareceram na minha mente e acabaram por me desacelerar gradativamente, até eu me encontrar novamente parado, vendo Clara partir a mil para longe de mim.
- Clarinha! – eu disse
Caminhei pela cidade à procura de Clarinha por incontestáveis minutos, cerca de trinta ou quarenta. Enquanto caminhava, tentava entender a reação de Clarinha. Imaginei que ela tivesse alguma suposição, ao menos, de meu amor por ela, uma vez que eu a beijara algum tempo atrás, antes de tudo acontecer com seu irmão.
Entretanto, não logrei êxito e, em seguida, voltei para o hotel onde eu me encontrava hospedado. Almocei e em seguida voltei para o meu quarto. Senti-me como nos primeiros dias de estadia em Jade, pois sabia que teria de repetir aquela minha corrida insaciável à procura de Clara. Contudo, o que aconteceria dali em diante eu nunca teria imaginado.
Adentrei em meu quarto e rapidamente me joguei sobre minha cama. Queria descansar; por mais que descansava, toda aquela situação roubava minha energia por completo. Entretanto, ao me jogar na cama, percebi que alguma coisa retangular, de pequeno porte, se encontrava sob minhas costas, entre minhas omoplatas. Levei a mão direita ao local e de lá retirei um objeto, que logo percebi ser meu celular.
- Ainda bem que te achei... achei que tinha te perdido na rua! – eu disse, para meu celular, enquanto eu fitava sua tela. O celular se encontrava à frente do teto, sob minha ótica de visão.
Naquele instante, percebi ter recebido uma mensagem.
- Uma mensagem... – eu disse. Abri-a. Naquele instante, fiquei estupefato. Ergui as sobrancelhas, tamanha surpresa. Estava escrito, no início do texto: “Não dá mais, Dan”.
Corria pela cidade, atravessando-a como podia. Veio em minha memória o texto da mensagem por completo, e perguntava-me o porquê daquilo:
“Não dá mais, Dan. Eu juro que tentei, mas não suporto ver meu último apoio para aguentar meus problema deste mundo partir novamente; prefiro eu mesma partir. Juro por tudo o que é mais sagrado, Dan, que tentei aguentar a perda do meu irmão, mas não deu. Não tenho mais ninguém neste mundo além de você, mas até você logo, logo partirá para Cansul e ficarei aqui sozinha. Amo-te como nunca amei outro homem nesta vida, e não aguentaria vê-lo partir novamente. Perdoe-me, Dan, por eu ter sido tão egoísta. Do fundo de seu coração, me perdoe. Você é meu anjo, sempre foi e sempre será. Adeus, Dan!”
Lágrimas escorriam de meu rosto a cada vez que eu me lembrava daquela mensagem. Imaginei que Clara só poderia se encontrar em um local, e para lá eu corri.
Eu não possuía um fôlego de atleta e, depois de atravessar a cidade inteira correndo e subir uma trilha demasiada íngreme, ao chegar a seu final, encontrava-me com o coração prestes a enfartar. Minha respiração ofegava consideravelmente. Pensei em esperar por alguns segundos até minha respiração e meu coração voltarem ao normal, entretanto, ao fitar o local e perceber que o mesmo se encontrava vazio, revigorei meu corpo e corri em direção, em total desespero, até a borda do penhasco. Naquele instante, veio em minha mente o que eu mais temi durante minha corrida pela cidade: a dor da perda.
Do alto do penhasco, fitei o corpo de Clara, jogado entre várias pedras, com imensas fraturas e hematomas pelo corpo.
Comecei a debulhar em lágrimas, ajoelhado diante o local, em pose de redenção. Minha mente não conseguia aceitar perder Clarinha, e não foi por algum tempo, por algum momento, ou ter a esperança de algum dia vê-la novamente, como sempre aconteceu em minha vida; agora era diferente. Eu nunca mais, em momento algum, veria Clarinha novamente. Gritei um longo e sonoro “Não!”.
Eu não iria suportar o fardo de viver o restar dos meus dias sem a minha querida amiga e o amor de minha vida, principalmente por saber que eu fui fraco e incompetência. Como seu querido amigo de infância, não consegui impedi-la de assim agir. Aquela situação estava deixando-me louco, não estava aguentando a dor da perda. Eu era fraco, incrivelmente fraco! Nunca consegui aguentar fardos; é como bem dizem – aquele que muito fala, nada faz. E eu realmente era aquele tipo de pessoa, que só falava, que fazia discursos eloquentes, mas que agia totalmente diferente.
Estranhamente, comecei a rir. Diante da perda incomensurável sofrida por mim, meu cérebro não aguentara e começara a se ensandecer. Ri, loucamente. De um riso tímido passei a dar gargalhadas profundas.
- Meu amor – levantei-me. Abri os braços, a um passo do penhasco – Meu amor, agora poderemos viver eternamente, como sempre quisemos, sem nada para nos atrapalhar!
- disse, antes de relaxar meu corpo e o mesmo tombar para frente
2 meses depois...
Stan estava no alto do penhasco das montanhas envoltas à pequena cidade de Jade. Ao seu lado, um homem, de seus quarenta e poucos anos, cabelos grisalhos, cenho fechado e usuário de terno preto. Na beirada do local, havia um par de cruzes, de cerca de um metro de altura. Em seus pés, diversas flores.
- Cá estamos! – disse Stan, assim que chegou junto do senhor de terno
- Eu ainda não entendo – por trás do rosto fechado, se encontrava, naquele instante, um homem melancólico diante os acontecimentos – Por que Dan faria isso?
- Não sabe, senador? – perguntou Stan – Deveria, então, ter conhecido melhor seu filho. – Stan deu uma pausa – Dan era extremamente apaixonado por essa menina, desde antes de sair de Jade. Quando vocês saíram daqui, por iniciativa sua, se eu não me engano, ele lhe odiou pelo resto de seus dias. E, por mais que tivesse outras namoradas, Dan nunca esqueceu Clarinha. Tentou não mais voltar em Jade para tentar esquecê-la, mas não conseguiu e, depois de longos dez anos, cá voltou. Encontrou-a; entretanto, o destino de ambos foi-lhes cruel e acabou por deixá-los eternamente juntos... do outro lado da vida!

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