sábado, 24 de dezembro de 2011

Especial de Natal - Reencontro na Noite de Natal




Quase já não me lembro dessa cena, de tão antiga que é, exceto quando sonho com ela. Ainda me lembro, era uma noite de inverno, nevava horrores e a cidade toda estava iluminada pelas luzes natalinas. Era 24 de dezembro, véspera de Natal e eu estava no meio da praça, coberta de neve, conversando com uma garota. Tanto eu quanto ela ainda éramos pequenos e vestíamos roupas pesadas.
A garota estava de costas para mim. Parecia triste.
- Esse é o último ano que passaremos o Natal juntos, Matt! – disse a garota, triste
- Não se preocupe, Mary! – eu disse, andando até chegar ao lado da garota – Ainda nos veremos!
- Eu tenho medo disso acontecer, Matt! – disse a garota, virando-se para mim.
Aquele par de olhos fitando-me angustiados me deixava em uma sensação única, uma mistura de angústia com êxtase.
- Não vai acontecer nada de mais, Mary. Por mais que seus pais mudarão de cidade, tenho certeza de que volta e meia eles estarão aqui, trazendo-o para me ver!
Mary caiu em meus braços, começando a se debulhar em lágrimas. Por um momento, eu estava com Mary, a minha melhor amiga e a primeira garota que eu amei, em meus braços, antes de ela desaparecer como em um sonho, para sempre...
Acordei em minha cama. Estava dormindo de frente, todo arrumado sob a montanha de cobertores. Em meus olhos tinha a mostra dos meus sentimentos naquele instante – lágrimas.
- Quanto tempo não tenho... esse sonho! – pensei, enquanto me livrava dos cobertores
Era uma manhã fria de inverno. Minha casa, assim como as demais da cidade, estava enfeitada, porque o Natal estava chegando. Meus pais e amigos iriam passar o Natal em minha casa, para os primeiros conhecerem o novo lar do filho querido, depois que eles saíram da cidade.
Caminhei até o banheiro. Lavei o rosto.
- Já se faz dez anos... – eu disse, olhando para o espelho do banheiro, que refletia a imagem de um jovem esfomeado, com cabelo desdenhado e um sono dos infernos...
Aquele sonho não tinha saído da minha cabeça. Por que dele agora? Será uma profecia, um sinal? Ou será que é um adeus definitivo? Não sabia, mas queria logo saber
Cerca de vinte minutos depois, eu estava na rua, com roupas diferentes da que eu estava em casa. A cidade estava enfeitada, o clima de Natal já havia tomado todos os cantos daquela cidade.
Como faltavam pouquíssimos dias para a grande data, o centro da cidade estava lotado; milhares e milhares de pessoas estavam afoitos procurando por presentes. Eu, ao contrário dessas milhares e milhares de pessoas, já estava com todos os presentes em casa – dos meus pais e dos meus amigos. Ao contrário de quase todos meus amigos, e de quase toda a cidade, não tinha uma namorada. Minha mãe estava louca para eu ter, e não é que eu não queria ter, mas minha personalidade não me permitia, digamos, se aproximar direito das garotas.
Eu estava andando pela cidade, ou melhor, tentando, porque o local estava lotado.
- Eu sabia que não foi uma boa ideia ter vindo pro centro... – pensei. Deveria ter feito caminhada em outro lugar, no meu bairro, por exemplo.
Estava me espremendo entre a massa populacional quando, diante de mim, passou uma garota muito linda. Olhos azuis, loira, curvas perfeitas. Meu Deus!, a garota era muito linda. Infelizmente, uma garota como aquela nunca me daria bola em toda minha vida.
Entretanto, assim que vislumbrei aquela garota, tive um rápido flashback. Não foi como em um sonho, ou mesmo como uma visão, foi um rápido flashback, como se fosse um flash mesmo. Na minha frente, apareceu rapidamente, por um instante, a imagem da Mary me abraçando, quando crianças.
Levei a mão direita ao olho do mesmo lado.
- O que... foi isso?
Aquela minha manhã estava muito estranha, e eu precisava desabafar com alguém.
- Então você teve novamente o tal sonho? – perguntou Damion, para mim. Damion era, sem sombras de dúvida, meu melhor amigo. Sempre que eu tivesse um problema, a primeira pessoa que eu sempre recorri foi Damion, até mesmo que meus pais.
Estávamos numa das praças principais da cidade. Damion estava sentado num dos bancos, enquanto eu estava de pé, escorado numa estátua, ao lado de Damion. O sol estava a pino, mas, por estarmos em uma praça bastante arborizada, o sol mal incidia em nossas cabeças.
- Exatamente! – respondi
- E qual é o problema nisso? Só por que tem anos que você não tem esse sonho não signifique que você nunca o terá novamente...
- O problema maior não foi o sonho por si só. Foi o que aconteceu na rua!
Damion mostrou claramente de que não estava entendendo nada.
- Explique melhor! – disse, sereno
- Quando eu estava na rua, passou por mim uma garota e, naquele instante, eu tive uma espécie de visão, de uma rápida cena desse meu sonho.
- A garota... – disse Damion, sério
- O que tem ela?
- É bonita? – perguntou, com olhar e ar sacanas.
Fiquei bastante irritado com a pergunta de Damion. Essa mania de fazer piada quando alguém estar desabafando com ele é o ponto do meu amigo que mais me deixa irritado.
- O QUE ISSO TEM A VER? – perguntei, irritado, aos gritos
- Nada. – respondeu, com um sorriso sacana no rosto – Mas, se você pegou o telefone dela, eu iria pedir!
- Eu apenas vi a garota, não aconteceu nada de mais!
- Novidade... – disse, suspirando, ainda com olhar sacana
Fiquei tão irritado com Damion, que virei as costas e disse, enquanto me distanciava do meu amigo:
- Se não quer me ajudar, obrigado!
- Acalme-se, estou só brincando! – disse Damion
Parei e voltei.
- O que você viu? – perguntou
- Foi a visão de eu e a Mary nos abraçando!
Damion olha para cima e diz:
- Você sempre foi preso ao passado!
- Mary foi minha melhor amiga desde criança. É claro que eu ainda tenho um grande apreço por ela!
- Só amizade? – perguntou. Outra mania enjoada de Damion, ficar me cutucando até me deixar irritado e falar o que ele quer ouvir
- Você sabe que sim!
Respirei fundo. Virei para os céus e fiquei fitando-o.
- Queria encontrar com ela novamente...
- Talvez ela esteja perto de você e você ainda não se deu conta... – disse Damion
- Está insinuando alguma coisa?
- Não, Matt, você sabe que sou péssimo em fazer isso – disse Damion – O que estou falando é que você está com esse negócio na cabeça a manhã inteira. Talvez seja um sinal...
- É, faz sentido...
A conversa que tive com Damion ficou em minha cabeça o resto do dia.
“Talvez seja um sinal...”, essas palavras de Damion ecoavam pela minha cabeça desde que conversamos.
Estava nevando, pouco, mas estava. Já estava de noite, o que diminuiu ainda mais a temperatura. Estava muito frio, e passei em casa para aumentar o número de minhas vestimentas.
Desde a conversa com Damion, fiquei vagando pela cidade. Precisava colocar a cabeça em ordem. Gostaria de saber o que estava acontecendo comigo, por que estava triste e pensativo, por que da tal visão assim que vi a garota, e tudo mais... Não estava entendendo o que estava acontecendo comigo. Será que, mesmo depois de dez anos, eu ainda estava amando aquela garota?
Estava vagando pela cidade. Àquela hora, com neve e frio, a cidade estava deserta, não havia praticamente uma viva alma vagando pela cidade, só eu mesmo, o único maluco.
Achei uma livraria aberta, perto da onde eu estava. Resolvi ir até lá, seria bom para minha cabeça achar algum livro interessante para dar uma olhada.
Depois de poucos minutos andando, entrei na livraria. Ali estava mais quente que do lado de fora. Mais quente, e mais movimentado, porque, dentro da livraria, havia algumas pessoas olhando os livros nas vitrines.
- Deseja algum livro em especial, meu jovem? – perguntou uma das funcionárias, a que estava mais próxima de mim
- Não necessariamente. Vim só dar uma olhada!
- Qualquer dúvida, é só me procurar!
- Obrigado! – eu disse
Distanciei-me da funcionária, caminhando em direção às vitrines.
Sempre me encantei por livro, e sempre que pude li algum que julguei interessante. Por isso, eu estava em um ambiente não só de refúgio, mas também para me ocupar mentalmente com outra coisa.
Estava na primeira vitrine. De tão fascinado pelo livro eu sou que, ao ver uma vitrine cheia deles, mal consigo ver quem está ao meu lado. Pode passar meu pai, o Damion, o papa, que eu nem percebo.
Estava passando as mãos pelos livros da vitrine até esbarrar em alguma coisa diferente. Era macio, e sua textura lembrava algo familiar.
Olhei para a coisa que eu esbarrei. Era uma mão, delicada e macia. Olhei para o dono da mão. Era a garota linda que vislumbrei mais cedo. Ela me fitava com um olhar sem graça, e eu fiquei mais sem graça e mais enrubescido que ela quando eu percebi a situação que eu encontrava. Rapidamente, puxei minha mão e comecei a sessão de pedir desculpas, balbuciando.
- Não se preocupe! – disse a garota, sorridente – Me paga um café quente que eu te desculpo!
Se fosse um canhão que tinha me dito isso, eu preferiria não ter sido desculpado, mas, para aquela garota, eu pagava, sem sacrifício nenhum.
Estávamos sentados no andar superior da livraria, que era uma espécie de lanchonete, onde as pessoas liam os livros que compraram enquanto vislumbravam um café quente ou um sorvete, dependendo da época do ano.
O café da garota tinha acabado de chegar, e o meu também. Ela estava sorridente e eu não parava de fitá-la. Meu coração estava a um passo de explodir no meu peito, eu estava muito nervoso. Por mais que eu já tenha ficado com algumas garotas, mas nunca fui convidado para uma conversa por uma garota tão linda como aquela.
- Gosta muito de livros, ou foi ali procurar um para dar de presentes? – perguntou a garota
- Gosto muito. Sempre gostei! – eu disse, um pouco acelerado, por causa do meu nervosismo. Felizmente, não estava gaguejando, o que demonstrava uma naturalidade em mim
- Não gosta de dar livros de presentes ou seus amigos não gostam de recebê-los?
- Já comprei os presentes! Não gosto de deixar de última hora!
- Também detesto! – disse a garota, enquanto beliscava o café
- E você? – perguntei – Estava para comprar ou apenas olhando?
- Gosto de olhar as estórias dos livros. Viajo em estórias! – ela disse, antes de dar uma risada sincera
Delirei no sorriso da garota, parecia uma princesa, uma fada, sei lá, alguma coisa do tipo.
Ao me perceber fitando-a, a garota me pergunta:
- Aconteceu alguma coisa?
- Nada. Nada! – disse, voltando a mente ao corpo
- Bom – disse a garota, enquanto se levantava, em seguida ao último gole do café – Já é hora de ir!
- E...Eu te acompanho! – eu disse, enquanto me levantava
- Muito obrigada! – disse a garota, sorrindo
Descemos a escada e chegamos à livraria.
- Que tipos de livros você gosta? – perguntou a garota
- Gosto de livros do estilo do Edgar Allan Poe e da Agatha Christie.
- Esses são livros mais voltados para o público masculino!
- E você? – perguntei – Que tipo de livros você gosta?
- Livros da Stephenie Meyer e da Nora Roberts.
- São livros mais voltados para o público feminino! – eu disse – Não acho que são livros ruins, mas o gênero não é o que me agrade!
- Como você mesmo disse, são livros voltados para o público feminino!
A conversa estava muito atraente, o tempo parecia ter ficado estático, para que eu e aquela garota pudéssemos continuar conversando para todo o sempre.
Depois de muitos minutos conversando, virei para a garota e perguntei:
- Ainda não nos apresentamos.
- É verdade! – disse a garota. Ela dá uma risada – Esqueci por completo!
- Me chamo Matt! – me apresentei
- Olha, você tem o mesmo nome de um garoto que eu conheci na infância!
- Sério? – perguntei, rindo. Eu ri para disfarçar a estranha dor no peito que eu estava sentindo no momento
- Ele era um grande amigo. Pena que não tenho mais contato com ele!
Percebi nos olhos da garota de que ela estava gostando de se lembrar daquele garoto.
- E você? – perguntei – Como se chama?
- Mary!
- MARY?! – perguntei, surpreso – Mary Simpson?
- Matt?! – perguntou a garota, surpresa – Matt? É você?
Naquele momento, eu fiquei bastante alegre. Talvez não só eu, Mary também. Depois de dez anos separados, nos reencontramos.
Naquele instante, Mary correu em minha direção e me abraçou. Me deu um enorme abraço, enquanto dizia:
- Não acredito, Matt. Quanto tempo!
Depois do grande e forte abraço que demos um ao outro, eu disse, analisando seu rosto:
- Vejo que você está bem, Mary!
- Você também está bastante bonito, Matt! – disse Mary. Ela ainda estava em êxtase, talvez mais que eu – Nossa, Matt, como você cresceu!
- Você também. Nem te reconheci mais!
- Nem eu, Matt. Nem eu!
Naquele instante, eu estava em êxtase. Realmente aquele sonho e aquela visão foram um prenúncio de alguma coisa boa que estava para acontecer. Pelo menos, por alguns instantes...
- O que está fazendo aqui, em Kharmville? – perguntou Mary
- Estou morando aqui agora. Depois que saí de casa, resolvi vir para Kharmville fazer faculdade!
- Faculdade... – repetiu Mary – Realmente o tempo voou!
- E você, Mary? O que faz aqui em Kharmville?
- Estou somente passeando – respondeu Mary – Minha tia está morando aqui, e vou passar o Natal e o Réveillon aqui na cidade!
- Nossa, nem acredito que você está aqui, Mary. Depois de dez anos, finalmente nos reencontramos! – eu disse. E realmente estava em êxtase com os acontecimentos
- Nem eu, Matt! – disse Mary, antes de dar até mim e me dar outro abraço
Assim que terminamos de nos abraçar, Mary deu um passo para trás. Naquele instante, eu conseguia sentir o frescor da sua boca vindo diretamente no meu rosto. Naquele instante, cheguei com o rosto perto do de Mary, até nossos narizes se esbarrarem.
Em seguida, nos beijamos. Como os lábios dela eram macios, e eu sentia o frescor de seu hálito na minha boca.
Eu queria que aquele instante nunca acabasse. Entretanto, uma hora acabou.
Assim que terminamos de nos beijar, fiquei envergonhado. Que merda eu fiz..., perguntei a mim mesmo.
- Me... desculpe! – eu disse. Estava enrubescido, tamanha vergonha. Apesar de gostar do beijo, naquele momento percebi o erro que cometi. Ao contrário de mim, Mary parecia estar brava, e realmente estava. Ela sentou os cinco dedos da mão direita na minha bochecha direita.
Em seguida, virou as costas e partiu. Julguei melhor não correr atrás dela. Era necessário, primeiramente, ela se acalmar, para depois me perdoar. Mesmo que isso demore dias e mais dias...
Os dias passam. Era 24 de dezembro. Minha casa estava cheia. Meus familiares e meus amigos ocupam quase que por completo o espaço da minha casa.
A casa não era grande, mas todos conseguiam caber dentro. Havia dois quartos, um banheiro, uma copa com cozinha, uma sala e uma varanda.
Eu estava sentado no sofá, desanimado. Estava sozinho, apesar de estar em minha casa. Segurava um copo de guaraná cheio, nem mesmo havia beliscado o refrigerante.
Damion percebe minha tristeza, sente-se ao meu lado e me perguntou:
- O que aconteceu, Matt?
- Nada de mais, Damion! – respondi – Só não estou com pique para festas!
E realmente não estava. Ainda estava machucado pela idiotice que eu tinha feito dias atrás. Quando finalmente consegui encontrar Mary, depois de dez anos, acabo fazendo merda e ela fica irritada comigo. Eu sou uma besta mesmo!
- Eu sei que aconteceu alguma coisa, Matt, mas não vou insistir! – disse Damion, se levantando – Eu sei que você é péssimo para guardar segredo. Na hora que você deixar escapulir, eu vou estar do seu lado para descobrir!
- Filho da mãe! – eu disse, sorrindo. Damion me conhecia como ninguém.
Damion se afastou de mim, pouco antes da minha mãe chegar, toda afobada, dizendo:
- Filho, filho, venha cá!
Minha mãe puxou-me pelo braço, quase me arrastando. Eu tentei pedir para ela se acalmar, principalmente porque meu refrigerante estava entornando no chão. Por sorte, não foi em minha roupa, mas estava sujando o chão da casa.
Minha mãe parou em frente ao meu pai.
- Aconteceu alguma coisa? – perguntei, enquanto minha mãe me soltava
- Você não acredita quem eu encontrei aqui em Kharmville?
- Mãe, não estou interessado em saber qual amiga sua de infância você achou por aí! – eu disse, dando as costas para minha mãe
- Não, Matt. A amiga de infância não é minha, é sua! – disse minha mãe, fazendo-me parar
- Como? – perguntei, virando para minha mãe
- Veja quem é, meu filho! – disse meu pai, dando um passo para o lado e saindo da frente de alguém
Quando vi alguém, fiquei surpreso, mas tão esperançoso. Minha mãe havia encontrado ninguém mais, ninguém menos, que a Mary.
- Veja, Matt. É a Mary, aquela sua amiga de infância! – disse minha mãe
Naquele momento, eu fiquei de calça justa. O que fazer? Como agir? Não queria que ninguém soubesse o que aconteceu entre nós dois, mas seria extremamente difícil disfarçar.
- O...Oi! – eu disse, levantando timidamente a mão direita. Foi a primeira ideia que eu tive.
Infelizmente, minha ideia e meus planos foram por água abaixo. Mary virou o rosto, irritada, para mim, e saiu de perto. Todos ficaram me olhando, principalmente meus pais. Tinha total certeza de que todos estavam se fazendo a mesma pergunta: O que aconteceu?
Saí de perto dos meus pais, antes que eles começassem a interrogar-me. Entretanto, acabei esquecendo que Damion tem a mesma mania dos meus pais.
Minha mãe ia andando para o meu lado, mas meu pai me segurou.
- Alguma coisa aconteceu entre os dois, Alfred. Eles eram muito amigos e não se veem há 10 anos. Não tinha como reagirem dessa maneira. – disse minha mãe
- Eu também tenho certeza de que alguma coisa aconteceu, Agatha, mas será os dois quem resolverão! Além disso – meu pai fez uma pausa, enquanto apontava com os olhos para sua frente – parece que o Damion irá conversar com o Matt. Ele conhece Matt mais do que a gente, com toda certeza ele ajudará nosso filho mais que a gente!
Minha mãe ficou parada por um momento. Não queria fazer o que meu pai havia falado, mas era o melhor a se fazer.
- Está bem, Alfred. Está bem!
Minha mãe se distancia do meu pai, mas para ao ouvi-lo falar:
- Se quiser conversar com alguém, acho melhor conversar com a outra parte!
Minha mãe vira-se para meu pai, surpresa.

Assim que saí de perto da minha mãe, caminhei em direção à cozinha. Ao chegar por lá, encostei-me no balcão que dividia o cômodo com a copa e fiquei vendo a festa, enquanto beliscava o que sobrou do meu refrigerante.
Naquele instante, ouço Damion me perguntando, atrás de mim:
- Eu não te disse que você era péssimo em esconder as coisas, que logo, logo você iria deixar escapulir alguma coisa?
- E você, como sempre, estava no lugar certo, na hora certa, para pegar tudo o que deixei escapulir! – eu disse, sorrindo, virando para Damion
- É claro! – disse Damion, desencostando da mesa da copa e se dirigindo até o balcão
Assim que Damion chegou ao meu lado, voltei à minha posição anterior.
- Aposto que quer saber o que aconteceu entre mim e Mary! – eu disse
- Na realidade, não! – disse Damion. Fiquei surpreso com a fala do meu amigo e virei o rosto para ele – Se você não quer contar, não vou insistir!
Virei novamente o rosto para frente.
- Ainda bem! – brinquei
- O que eu vim comentar é que essa sua amiga é muito gostosinha! – ela disse, com ar de sacana
- Olha o respeito! – eu disse
- Não é nada de mais falar que uma garota é gostosa. É sua amiga, não é sua namorada!
Por mais estranho que fosse, quando Damion proferiu sua última frase, meu coração disparou, e veio na memória a lembrança do beijo, uma lembrança tão forte que dava para sentir os lábios de Mary tocando nos meus.
- Você quer ser namorá-la, não é? – perguntou Damion. Ele me conhecia a ponto de saber como eu estava por cada reação minha
- C...Claro que não! – fui pego de surpresa. Acabei balbuciando
- Ah, qualé? – disse Damion – Essa Mary é sua amiga e é muito gostosinha. Vai dizer que não quer namorá-la? É por que ela é metidinha?
- Não, ele é gente boa. – pausa – Ou, pelo menos, era...
- Então, cara... – disse Damion – Sua amiga, gostosa e gente fina, quer mais o quê?
Suspirei fundo. Estava visivelmente triste com o rumo que a conversa estava tomando.
- Não é bem simples assim!
- Vocês brigaram, não foi? – perguntou Damion – Por que brigaram?
Eu sabia que Damion iria me enrolar até me fazer falar.
- Acho que eu posso te contar... – eu disse. O fato de eu e Mary termos brigado estava corroendo-me por dentro, ainda mais com o rumo que a conversa estava tomando e precisava me desabafar.
Enquanto eu desabafava com Damion, Mary estava debruçada na varanda da minha casa. Estava sozinha, segurando um copo cheio de coca-cola. Pensei que ela estivesse com raiva, mas ela estava triste.
- Aconteceu alguma coisa entre você e meu filho? – perguntou minha mãe, na entrada da varanda, atrás de Mary
- Não é nada, sra. Thompson! – respondeu Mary, virando-se para minha mãe. Como sempre, Mary chama minha mãe de sra. Thompson
- Você não mudou muito nesses dez anos, Mary. Não por fora, você ficou muito bonita...
- Obrigada, sra. Thompson! – disse Mary, forçando um sorriso
-... mas, por dentro, você continua a mais. Mais madura, claro, mas continua a mesma pessoa!
- É, ninguém muda por dentro, não importa quanto tempo passe! – filosofou a garota
- Não, Mary! – disse minha mãe – O Matt mudou, mudou muito!
- Realmente parece que mudou, sra. Thompson. – disse Mary, com um sorriso verdadeiro na boca, mas uma melancolia nos olhos – Quando éramos criança, Matt só tinha a mim como amiga. Hoje ele tem vários deles, inclusive um que mais parece irmão. O que está conversando com ele na cozinha!
- Ele realmente mudou muito! – disse minha mãe, me vendo na cozinha da varanda – Mas mudou por sua causa, Mary! – ela olhou assustada para minha mãe – Quando você foi embora, Matt ficou triste, porque ele gostava muito de você, muito mesmo, aí ele me prometeu de que iria mudar, ele me disse que quando gostasse de outra garota, ele iria chegar nela como não fez contigo!
Mary ficou surpresa, tão imaginava os meus sentimentos por ela.
- E...Eu n...não ima...ginava! – disse Mary, ainda bastante absorta com sua descoberta
- O que eu quero dizer – disse minha mãe, sobrepondo sua mão direita à esquerda de Mary – é que finalmente vocês se encontraram. Não sei o que aconteceu entre você e meu filho, mas perdoa ele. Com toda certeza, eu sei que foi impensado a atitude dele!
Minha mãe não sabia o que aconteceu entre mim e Mary, mas tinha total certeza do que aconteceu, mas não quis especular nada.
- Então, você beijou a Mary? – perguntou Damion
Concordei com a cabeça. Estava tão envergonhado que só consegui responder com a cabeça.
Damion riu, enquanto se desencostava do balcão.
- E ela brigou contigo, certo?
- Aonde quer chegar? – perguntei
- Converse com ela, Matt! – disse Damion – O melhor a se fazer agora é conversar. Pedir desculpas só não basta. Tem que conversar com ela, talvez ela só foi pega de surpresa. Corra riscos, meu caro, só assim você vai conseguir ter o que quer ter.
As palavras de Damion, como sempre, me fizeram ganhar coragem.
- Você tem razão! – disse, encorajado – Não há nada a perder mesmo!
Damion sorriu. Desencostei do balcão e saí em direção à sala.
Mary estava sozinha na varanda, minha mãe havia deixado-a sozinha para pensar no que iria fazer. Ela ainda estava arrumando na cabeça os fatos que minha mãe lhe contou. Eram fatos extremamente novos para Mary, e ela ainda estava bastante surpresa.
- O que... eu devo fazer? – ela se perguntou, ainda bastante confusa
- Podemos conversar? – eu perguntei, atrás dela. Minha voz demonstrava meus sentimentos, uma austeridade misturada com uma melancolia
- Matt! – disse Mary, surpresa, virando-se para trás. Talvez a última pessoa que Mary queria conversar, naquele momento, era comigo
- Podemos conversar? – insisti. Caminhei até ficar do seu lado
- O que quer falar comigo, Matt? – perguntou Mary. Sua voz demonstrou uma estranha frieza em suas palavras
- Queria lhe pedir desculpas pelo ocorrido! – eu disse. Mary não demonstrou surpresa. Talvez ela já tivesse em mente de que eu iria lhe pedir desculpas – Não quero que se sinta aborrecida na véspera do Natal! – disse, sentado na mureta da varanda
- Eu estou sabendo... – Mary disse. Sua frase me deixou surpreso, e também curioso.
- De...? – perguntei
- Dos seus sentimentos por mim!
A frase de Mary lançou meu coração às alturas. Fiquei trêmulo, nervoso e enrubescido. Não iria conseguir formular uma frase sem balbuciar horrores.
Fiquei cabisbaixo, não iria conseguir encarar Mary.
- Então... minha mãe te contou!
- Por que VOCÊ não me contou antes? – perguntou Mary, chamando minha atenção para ela
- Como? – perguntei, surpreso.
- Por que, ao invés de você deixar as coisas acontecerem, você não chamou e me contou que gostava de mim?
Novamente fiquei cabisbaixo.
- Não é tão fácil assim... – eu disse, com o olhar perdido no infinito – Você sabe como sou...
Mary abre um sorriso.
- Você está bem mais diferente do que há dez anos...
Ao perceber Mary sorrindo, acabei ficando menos tenso, como se tivesse sendo menos pressionado.
- Mas eu gostei de saber que você gosta de mim! – disse Mary, olhando para cima. Nessa hora, meu coração foi às alturas, fiquei novamente trêmulo e enrubescido – Afinal, você é meu querido amigo de infância!
Eu queria acabar com aquela conversa. O fato de ela ficar falando aquilo, de um jeito ou de outro, estava me machucando.
- Bom – eu disse, descendo da mureta – Creio que você me desculpou então!
Não quis ouvir sua resposta. Fui caminhando, a passos não muito nítidos, em direção à casa.
- Espere. Não acabei! – disse Mary, segurando meu braço
Virei para Mary.
- O que eu quero dizer é que...
- Que?
Percebi Mary ficando enrubescida. Ao invés de me dar uma resposta, percebi sua cabeça vinda em direção a mim.
- Ma... – eu disse, mas não tive como terminar. Mary tampou minha boca com a sua. E eu não iria mover nem céus nem terra para destampar minha boca.
Ficamos ali, um sentindo a maciez dos lábios do outro, o frescor do hálito, enquanto todos, de dentro da casa, viam como, em uma noite, o mundo pode dar voltas.

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