sábado, 17 de dezembro de 2011

O caso John Grishard




A sala onde o julgamento do ano estava acontecendo estava lotada. Todos queriam testemunhar o fim do caso que tomou conta das principais páginas dos jornais locais durante semanas. O acusado, John Grishard, um rico empreendedor da cidade, estava testemunhando, triste e calado, o desfecho do julgamento. Acusado de assassinar cruelmente mãe, irmã e cunhado, com o empenho da mídia em acusá-lo, o corredor de morte era mais que certo que seria seu destino.
- O júri decidiu, por 7 votos a 4, que John Grishard é considerado acusado. – na hora, começou um leve tumulto. Grishard abaixa a cabeça. O juiz bate o martelo e espera o tumulto acabar – O júri declarou que a sentença dada ao réu será a de morte. – O público sorri; Grishard parecia chorar - A sentença será cumprida em duas semanas. Enquanto isso, o réu deve aguardar o cumprimento da sentença em regime fechado. – o juiz bate o martelo novamente e se levanta
O réu é retirado da sala de julgamento, sob os gritos incessantes da multidão, chamando-o de assassino. Os gritos eram tão altos que abafaram os gritos de Grishard, que gritava ser inocente, que aquilo era uma calúnia.
Na plateia, estavam dois homens vestidos comumente, mas de comuns nada tinham. O da direita, um homem levemente robusto, cabelo preto, portador de um bigode unido a um cavanhaque e vestindo terno era o russo Alexandre Kajre, ajudante do detetive inimaginável vienense Guilherm Friederich Fritz, um homem franzino, ruivo, portador de óculos e vestindo um sobretudo.
Com um sorriso de satisfação no rosto, Kajre diz para Fritz:
- Justiça seja feita.
- Sei não! – disse Fritz, pensativo
- Aconteceu alguma coisa, Guilherm?
- Não acredito que o John seja assassino, Alexandre!
Misturados na população, Fritz e Kajre deixam o fórum, mas não deixam o assunto.
- Como assim? – perguntou Kajre, surpreso – Todo mundo sabe que o Grishard é o assassino!
- Alexandre, ele foi assim tachado pela própria população. Não quer dizer que realmente seja!
Alexandre caminha até ficar frente a frente a seu amigo, fazendo os dois pararem.
- Olha, Guilherm, você não quis pegar o caso enquanto podia! Agora, não pode fazer mais nada!
Guilherm fitou o amigo, com olhos de quem está para explodir.
- Você sabe que eu estava em outro caso, Alexandre. – disse Fritz, distanciando do amigo, dando as costas a ele
Alexandre caminha até ficar novamente lado a lado a Fritz.
- Tudo bem, deixa isso pra lá... – Alexandre faz uma pausa – Mas por que você supõe que o Grishard não é culpado?
- Tenho que analisar a casa e os corpos primeiro. Felizmente, ainda não foram enterrados. Acho que o inspetor previu que eu fosse investigar antes do caso ser dado por encerrado!
- Você não me respondeu, Guilherm. Por que supõe que Grishard não é o assassino?
- Não sei, Alexandre. Minha intuição de detetive que me diz!
Fritz e Kajre caminham pela cidade. Pararam em frente a um portão de uma luxuosa casa. Tanto o muro que circunda a casa quanto o portão eram de grade, permitindo, assim, qualquer um ver os jardins frontais e a entrada da casa.
- É aqui! – disse Fritz
- A casa está com quem agora? – perguntou Kajre
- Deve de ainda estar sob a égide policial, Alexandre! – respondeu o amigo
O detetive tocou a campainha, localizada ao lado do portão. Poucos segundos depois, um policial mal-humorado abriu a porta da casa.
- Quê que é?
- Eu sou Guilherm Friederich Fritz e esse é meu amigo Alexandre Kajre. Viemos aqui ver a cena do crime do caso John Grishard!
- Vocês não acham que vieram um pouco tarde demais, não? O Sr. Grishard já está preso e condenado. Já, já, vai ser executado!
- Por isso mesmo tenho que agir agora! – respondeu Fritz, meio ríspido – Temo que a justiça tenha feito uma injustiça, e vim aqui fazer a última análise. Como uma espécie de aval, entende-me?
- Entendi! – disse o policial, mais bem humorado. Talvez a companhia de alguém tirasse o pobre coitado da companhia diária com a solidão – Tudo bem. – continuou, caminhando em direção ao portão com um molho de chaves em punho – Pode entrar, senhor Fritz e senhor...
- Kajre! – completou Alexandre
- E senhor Kajre! – disse o policial
Alexandre e Fritz entraram nos jardins da suntuosa casa. Deram dois passos e esperaram o policial fechar o portão, para este tomar a frente.
Seguidos pelo policial, entraram na casa. Uma suntuosa casa, principalmente vista por dentro. A primeiro plano, uma sala, com um par de sofás caríssimos, uma TV 50’, um home theater, um aparelho de DVD e uma mesinha central. No teto, um par de lustres e um ventilador central. Da sala, partia um par de corredores, um para o fundo da casa, outro para a direita. Ao lado do segundo corredor, uma escada, que dava ao andar superior.
Enquanto Fritz e Kajre vislumbravam o cômodo, o policial aquietou-se. Esperou o grupo terminar de contemplar, para tomar as rédeas e dizer:
- Queiram me acompanhar, senhores!
O policial subiu as escadas, seguido por Fritz e Kajre. Ela era de madeira antiga, havia um corrimão e subiu apenas um de cada vez. Seu formato era de um “U” na horizontal.
Chegando ao andar superior, a dupla de amigos se deparou com um corredor cercado de inúmeras portas laterais e uma maior, frontal. Em silêncio, caminharam até o final do corredor. Pararam frente a frente à porta frontal e a uma dupla de portas laterais, frontalmente entre si.
- Chegamos! – disse o policial. Fritz e Kajre continuaram em silêncio – A porta lateral da esquerda é onde ficavam os quartos do senhor e da senhora Matthews e o quarto maior, da matriarca da família.
- E esse quarto? – perguntou Fritz, apontando para a porta lateral da direita
- Esse é o quarto do senhor Grishard!
- Certo! – disse Fritz – rápida pausa, como se fosse apenas para dar uma golfada no ar – Não se preocupe, senhor policial, não tocarei em nada!
- Certo – rápida pausa – mas estarei de olho em vocês! – disse o policial
Fritz abriu a porta lateral esquerda. Era um quarto, como o próprio policial dissera. Tinha uma cama de casal central, com lençóis, travesseiros e fronhas, um guardarroupa numa parede e uma porta frontalmente ao guardarroupa. Por fim, havia uma janela frente a frente com a porta, do outro lado do cômodo.
A cama chamava atenção: os lençóis estavam esparramados num canto e faltava o travesseiro posicionado lado a lado com o que se encontrava sobre a cama. Além disso, havia uma marca de sangue, já coagulado, no lado arrumado da cama e alguns pingos do outro lado. Fritz rodou em volta da cama como um caçador roda em volta de sua presa. Do outro lado, percebeu o travesseiro caído no chão e pingos de sangue no chão.
- Como estavam os corpos, policial? – perguntou Fritz, sem parar de olhar para a cama
- Ah, senhor Fritz, uma cena muito estranha! – disse o policial, caminhando até ficar lado a lado com Alexandre, que estava no lado oposto ao seu amigo – A Sra. Matthews estava deitada de bruços deste lado – ele apontou para o lado arrumado – com um tiro atravessando suas costas, enquanto o Sr. Matthews estava caído no chão, com um tiro no peito. Pela cara de surpreso que o Sr. Matthews apresentava, parecia que ele ouviu o tiro que matou sua esposa e acordou, sobressaltado, ficando sentado na cama e recebendo um tiro certeiro no peito.
Ao ouvir a narrativa do policial, Fritz olhou novamente para os lençóis sobre a cama.
- A quantos metros de distância foram os disparos? – perguntou Fritz, fitando o policial
- Não sabemos, senhor Fritz. Não conseguimos calcular precisamente!
- Bom – disse – vamos para o quarto da Sra. Grishard.
Tomando a dianteira desta vez, Fritz sai do quarto e caminha em direção ao outro quarto. Enquanto caminhavam em direção ao segundo quarto a ser analisado, Fritz perguntou para o policial:
- Como estavam trancadas as portas da casa?
- Por dentro! – Fritz e Kajre, surpresos, fitam o policial
- Como assim? – perguntou Kajre – Então, não tem como o Sr. Grishard...
- A janela do quarto do senhor e da senhora Matthews estava fechada por fora.
- Trancada, suponho. – disse Fritz, continuando andando em direção ao quarto
- Não! Destrancada!
Fritz não demonstrou surpresa; Kajre, ao contrário, estava surpreso com os fatos.
Chegaram ao segundo quarto. Dessa vez, foi o próprio Fritz quem abriu as portas. Da porta do quarto dava-se para ver o quarto inteiro. Ele era mobiliado exatamente igual ao quarto visitado anteriormente. A única coisa que mudava era a cama, que, ao contrário da anterior, não havia marcas de sangue e tudo estava nos conformes, exceto um detalhe: faltava o lençol para se cobrir.
O policial, percebendo o interesse do grupo pela cama, adiantou:
- Ela foi enforcada com o lençol!
- Já sabemos, senhor policial! – disse Fritz, sem olhar para o policial – Aliás, todo mundo já sabe!
O policial ficou em silêncio e deixou a dupla de detetives investigar o cômodo.
Fritz fitou a cama parado na porta, enquanto Kajre fitava-a circundando-a.
- Onde está o lençol que o assassino usou para estrangular a vítima? – perguntou Kajre, olhando para o policial
- Foi levado pelo inspetor! – respondeu o policial
- Quer indagar mais alguma coisa, Guilherm? – perguntou Kajre, para Fritz
- Não! – respondeu Fritz, desviando o olhar para seu amigo – Acho que já podemos ir embora!

Fritz e Kajre estavam se despedindo do policial, em frente à parte externa do portão da casa.
- Eu não te disse que não há nada além do que sabemos, Guilherm? – perguntou Kajre, enquanto a dupla caminhava
- Talvez, meu caro Alexandre. – disse Fritz, sorridente – Mas temos que analisar os corpos primeiro!
- E para onde iremos agora?
- Ao necrotério, logicamente. Onde mais estarão os corpos?

Fritz e Kajre tocavam a campainha do pequeno prédio de três andares do necrotério.
- Posso ajudá-los? – perguntou um negro, de cabelos grisalhos e roupas simples
- Sou Guilherm Friederich Fritz e esse é meu amigo Alexandre Kajre. Queríamos solicitar ao senhor uma vistoria nos cadáveres do caso John Grishard!
Desconfiado, o negro cruzou os braços, encostou-se à parede e perguntou-lhes:
- Por que, eu poderia saber?
- Quero dar um parecer meu ao caso. Não quero ver alguém ser executado sem eu me convencer se ele é realmente acusado!
- Tudo bem! – disse o negro, desencostando da parede – Deixo-lhes entrar, porque o senhor é famoso na cidade, senhor Fritz!
- Obrigado! – agradeceu o detetive, sorridente – Não vou tomar muito do seu tempo, senhor!
- Assim espero, detetive.
Fritz e Kajre entraram no corredor apertado do necrotério, enquanto o negro fechou a porta de entrada.
- Queiram me seguir! – disse, tomando a dianteira
O negro foi conduzindo a dupla de investigadores até a entrada das geladeiras, um cômodo fechado, cheio de geladeiras imensas, que guardam inúmeros corpos. Na porta do local, entregou um par de grossos casacos à dupla, que os pegou e vestiu-os.
Igualmente vestido, o negro adentrou ao local. Caminhou alguns segundos ali por dentro e depois parou em frente a um grupo de geladeiras. Abriu um trio delas, posicionadas lado a lado entre si.
Sem tocar em nada, Fritz e Kajre fitaram os três cadáveres. O primeiro era uma senhora, septuagenária, com uma marca profunda no pescoço. Fritz esticou a mão para tocar na marca no pescoço do cadáver, mas o negro repreendeu e o detetive recolheu a mão.
O segundo cadáver era uma mulher, loira, cabelos longos, vestindo um pijama parecido com a septuagenária. Ela tinha aparentes 30 anos e, a pedido de Fritz, o negro virou-a de bruços, para que o detetive melhor analisasse a profunda ferida nas costas, perto das nádegas.
O terceiro cadáver era de um homem robusto, cabelos lisos e barbas, vestindo um pijama levemente amarrotado no corpo e trespassado por uma bala certeira, direto no coração. A mão direita do cadáver estava levemente fechada. Um detalhe importante, que não poderia passar despercebido do olhar voraz de Fritz era a expressão facial do defunto – um leve assustado.
- Não disse? – perguntou Kajre, exaltante – O Sr. Matthews assustou-se com o senhor Grishard, antes de ser trespassado. A cara dele revela tudo.
Fritz ficou calado, apenas analisando o corpo.
- Não vai falar nada, Guilherm?
- Falaremos lá fora. – respondeu, apenas, sem tirar o foco do cadáver
O negro estava encostado a uma das geladeiras. Parecia cansado, queria se sentar e assistir ao jogo de futebol na sua TV 14’, ao invés de ficar vigiando uma dupla de detetives investigando um caso já solucionado.
Assim que terminou de analisar os corpos, pouco tempo depois de falar, Fritz virou-se para o negro e disse:
- Já vimos o suficiente. Obrigado!
O negro apontou com a mão a saída e Fritz e Kajre caminharam até o local.

Fritz e Kajre já se encontravam do lado de fora do necrotério. Caminhavam sem rumo pela cidade, talvez estivessem voltando para casa.
Estavam em absoluto silêncio. Fritz retirou o celular do bolso do sobretudo, desbloqueou-o e teclou alguns números, exatos 9. Esperou alguns segundos com o celular em punho, fitando a tela do aparelho, apertou um décimo botão, diferentemente dos outros nove e guardou-o de volta no mesmo bolso.
Alexandre fitou as ações estranhas do amigo, mas nada proferiu, mantendo, assim, o silêncio que os circundava, silêncio este interrompido subitamente por Guilherm, dizendo, sorridente:
- Não te falei que o Sr. Grishard não poderia ser o assassino?
Alexandre sobressaltou-se diante a fala do amigo. Virou assustado para o amigo e perguntou, ainda surpreso:
- Como?
- O Sr. Grishard nunca poderia ter matado sua mãe, irmã e cunhado, por mais que odiasse o último! – afirmou Fritz
- Como pode ter tanta certeza, Guilherm? Não achamos nada de mais...
- Há mais coisas entre o céu e a terra do que as pessoas podem imaginar, meu caro Alexandre – filosofou o amigo, ainda mantendo o sorriso de triunfo no rosto – Se você se lembrar do cadáver da Sra. Grishard, lembrará claramente a marca de quem foi estrangulada...
- Exato. Você mesmo quis tocar e aquele senhor não deixou...
- Eu quis tocar não por causa da marca de estrangulamento, mas sim porque reparei que o osso do pescoço da Sra. Grishard estava quebrado.
Alexandre se surpreende com a afirmação do amigo.
- Quebrado... – repetiu, absorto
- Exatamente! – rápida pausa – Um jeito rápido de se morrer na forca é, com a quebra abrupta, a corda segurar o enforcado e quebrar seu pescoço. E foi exatamente isso o que aconteceu com a Sra. Grishard. Ela não morreu estrangulada pelo lençol, ela morreu com a quebra do pescoço. Entretanto... – Fritz dá uma pausa, para pairar um ar de suspense e tensão – para que isso acontecesse com uma queda pequena como a de quem está caindo no chão estando em cima da cama, precisaria de um nó e de um empurrão fortíssimos. E como você mesmo deve de ter reparado, a marca no pescoço da matriarca indica que o nó que a “estrangulou” – Fritz deu ênfase nas aspas – foi fortíssimo.
- Aonde quer chegar, Guilherm? – perguntou Alexandre
- Como deve de saber, o Sr. Grishard é franzino, o que o impediria de cometer tal atrocidade.
- Isso não implica nada. Ele pode... – dizia Alexandre, interrompido com um sinal de Fritz para ele manter-se quieto
- Hora nenhuma disse que minha afirmação fundamenta-se apenas nesse fato! – disse o detetive. Kajre aquietou-se – Tem também os tiros que mataram os senhor e senhora Matthews. O tiro que matou a Sra. Matthews foi um tiro que matou não da esquerda, posição de quem entrou no quarto e desferiu o certeiro golpe que matou o Sr. Matthews, segundo a versão oficial, mas de cima dela, como os próprios legistas devem de ter descoberto ao periciarem!
- Fizeram, Guilherm, e descobrirem que o Sr. Grishard subiu na cama e atirou! – disse Alexandre, irritado com tamanhas especulações de Fritz
- Errado, meu caro Alexandre Kajre! – Kajre fica surpreso – Na cena do crime não havia marcas de que o Sr. Grishard teria subido na cama para atirar.
- Então, sei lá... – Kajre tentava arrumar um argumento – ele pode ter atirado em pé mesmo, posicionando a arma para ficar de cima dela
- Primeiro, não havia motivos para fazer isso, já que ele poderia matá-la da posição que estava. – explicou Fritz – Segundo detalhe, a análise descobriu que o Sr. Grishard subiu na cama. Isso quer dizer que o tiro que matou a Sra. Matthews só poderia ser disparado por alguém em cima da cama.
Kajre emudeceu-se; não tinhas palavras para contrariar seu amigo.
Fritz continuou a argumentar sua tese inicial:
- E ainda tem o Sr. Matthews!
- O que tem ele? – perguntou Kajre, bem mais interessado pelas especulações do amigo que antes
- Segundo a análise policial, ele foi morto com um tiro certeiro no coração, estando sentado na cama e caindo com o impacto do tiro.
- Exatamente!
- Errado! – disse Fritz, com veemência
Kajre se surpreendeu com a afirmação do amigo.
- Errado?! – perguntou, ainda surpreso
- Exato. – pausa - Se o Sr. Matthews realmente tivesse sido morto dessa maneira como dizem, ele teria tentado se segurar para não cair da cama. Entretanto, não há marcas na colcha de tentativa de tal operação. – Fritz percebeu que Kajre movimentou a boca para falar alguma coisa e antecipou-o - Você poderia dizer que ele não teria tentado se segurar por estar baleado. Entretanto, uma de suas mãos estava fechada, o que demonstra que ele estava segurando algo.
Kajre emudeceu-se novamente.
- Outra coisa! – continuou o detetive – O Sr. Matthews teria caído da cama ao ver o assassino, não por ter sido alvejado. Ninguém ficaria sentado na cama com outra pessoa apontando-lhe uma arma para seu peito e com sua esposa morta do seu lado. Não havia como ele ser alvejado sobre a cama, porque ele assustaria com o vulto, antes dele atirar. Ou seja... – parou novamente para dar um ar de suspense - Ele teria de ser encontrado alvejado pelas costas, quando se arrastava pelo chão, tentando fugir do iminente destino.
- O que está supondo, Guilherm?
Fritz fez sinal com a mão para o amigo esperar.
- Na casa do Sr. Grishard, enquanto analisávamos os contos, fiz menção de procurar quais ligações foram dadas e recebidas pelos moradores presentes naquela noite. E descobri que, à meia-noite e vinte e cinco, ou seja, quinze minutos antes do fim – ênfase dada na palavra “Fim” - do morticínio, um traficante de drogas ligou para a casa do Sr. Grishard e a ligação demorou poucos segundos, nada mais que um simples recado dado. Esse sujeito era amigo de algum dos moradores, pelo fato de na bina haver seu nome registrado. Olhei na agenda de cada um dos moradores, guardadas na gaveta da escrivaninha e descobri que o traficante era amigo confidencial do Sr. Matthews.
- Aonde quer chegar, Guilherm? – insistiu Kajre
Fritz ignorou a pergunta do amigo e continuou a explicar suas especulações sobre o caso.
- Na bina também deu para reparar que pouco depois das 21 horas, o Sr. Matthews ligou para o traficante e essa conversa demorou mais de meia hora. Possivelmente, combinou com esse alguém para que ele embebedasse ou drogasse o Sr. Grishard, porque pouco menos de uma hora o Sr. Grishard já encontrava nesse estado, como a análise médica concluiu durante o caso.
- E a troco de quê o Sr. Matthews faria isso com o Sr. Grishard?
- Para incriminá-lo! – disse Fritz, falando novamente com veemência. Kajre fica surpreso com a afirmação do amigo – O Sr. Matthews já teve passagens por diversos sanatórios por ataques homicidas ou suicidas, exatamente após uma fúria. – Kajre mexeu os lábios para proferir alguma coisa, mas calou-se quando Fritz adiantou-se – Ao contrário do que possa imaginar, quando ele ficava furioso, o Sr. Matthews ficava extremamente calculista. – Alexandre se calou – Segundo os relatos dos vizinhos enquanto prestavam depoimentos, o Sr. Matthews havia discutido com o Sr. Grishard exatamente às 20 horas e 55 minutos, terminando a discussão com a saída do Sr. Grishard, cerca de um a dois minutos antes da ligação do Sr. Matthews para o tal traficante!
Kajre fazia cara de que estava entendendo tudo. Mentalmente, estava arquivando informação por informação; era informação demais dada no mesmo instante.
- Ou seja, para incriminar o Sr. Grishard, o Sr. Matthews matou sua sogra enforcada, atirou na sua esposa e depois se matou, fingindo ter ficado surpreso vendo o seu “assassino”. Quanto à arma do crime – adiantou-se, parando um instante para pairar um ar de instante no ar – Esse traficante deve ter entrado na casa pela janela, a única destrancada da casa, roubou a arma da mão direita do Sr. Matthews – por isso a arma dele levemente fechada – e saiu pela mesma janela que entrou. Como o Sr. Grishard estava esparramado na rua, por causa das drogas ou bebidas, foi fácil pô-lo como dono da arma e assassino do caso.
Kajre olhou abismado para Fritz; apesar de conhecer bem o amigo, tinha hora que Fritz se superava.
- Genial como sempre, Sr. Fritz! – gritou alguém, sobressaltando Kajre, tamanho o susto. A voz vinha do bolso do sobretudo de Fritz, que enfiou a mão no local e retirou seu celular
- Obrigado, inspetor. – disse Fritz
- Então, naquela hora... – disse Kajre, ainda assustado
- Sim. – respondeu Guilherm – Eu liguei para o inspetor e deixei no viva-voz!
- Bem esperto da sua parte, Guilherm! – disse Kajre
- É meu trabalho! – disse Fritz. Em seguida, virou o foco para o celular e disse:
- E agora? O que acontecerá com o Sr. Grishard?
- Passaremos suas informações para o juiz do caso. Com certeza, sabendo que você quem descobriu o verdadeiro assassino, libertará o Sr. Grishard!
- Folgo em saber, inspetor! – disse Fritz, sorridente
O inspetor se despede de Fritz e desliga o celular. Fritz guarda o aparelho no mesmo bolso.
Kajre vira para Fritz; ele estava feliz.
- Vamos beber? – perguntou
- Claro!
No dia seguinte, a primeira página do jornal da cidade estampava:
“O GENIAL GUILHERM FRIEDERICH FRITZ DESCOBRE O VERDADEIRO ASSASSINO DO CASO JOHN GRISHARD”

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