sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Uma Triste História de Amor




Falar sobre tudo que envolve essa parte de minha história de vida é muito doloroso para mim. Tem horas que não sei se aguentarei caminhar adiante, pois sempre vem, na minha memória, fragmentos dessa parte da minha história de vida, o que me faz desabar, sem forças.
Quando eu tinha catorze anos de idade, eu era um rapaz bastante atraente, modéstia parte – não era nenhum padrão de beleza, mas sempre havia uma ou duas garotas me galanteando. E, num dia qualquer, eis que surge, na minha vida, Jenniffer. Jenniffer era uma garota linda, com olhos azuis, cabelos alourados e curvas suntuosas – mesmo com a pouca idade. De imediato, tão logo a fitei pela primeira vez, meu estômago foi tomado por um mar de borboletas, que deixava o coração acelerado e o cérebro sem pensar de forma apropriada.
Tornei-me amigo de Jenniffer. E eu sentia por ela um carinho de irmão. Não a via diferente, pelo menos não naquela época. Rapidamente, tornamo-nos melhores amigos – daqueles de um dormir na casa do outro, e um ser extremamente chato com o outro. Como toda boa amizade entre homem e mulher, um dia a mesma iria ser convertida em amor. E a nossa bela amizade se tornou um amor verdadeiro em um dia ensolarado, quando tínhamos dezesseis anos. Estávamos ambos sentados debaixo de um carvalho gigante, perto da casa dela, após corrermos pelo gramado, como duas crianças. Trocamos nosso primeiro beijo ali, de uma forma inconsciente – apenas estávamos respondendo aos estímulos enviados pelo coração, por causa do novo sentimento que ali se aflorava.
Jenniffer, sem sombra de dúvida, foi a melhor namorada do mundo – sempre esteve do meu lado, me dando força ou parabenizando por minhas conquistas, como quando adentrei no meu curso de Direito, sempre que algo de ruim ou de bom invadisse minha vida. Todos falavam do carinho que a garota me dava, nos momentos ruins ou bons da vida. E eu tinha um amor incondicional por aquela garota.
Quando estávamos com vinte e dois para completar vinte e três anos, Jenniffer começou a reclamar de uma intensa dor no lado direito do corpo, pouco acima do quadril. Cremos, na época, que havia sido dor nos rins por falta de água – Jenniffer quase não ingeria líquidos. Durante dias, ela reclamava constantemente de dor na região, que era apaziguada pela ingestão de líquidos. Entretanto, no dia do meu aniversário de vinte e três anos, no meio da festa, eis que Jenniffer tem uma síncope, causada pela intensa dor nos rins. Assustados pela situação, levamos a garota para o hospital. E lá, após uma bateria de exames, veio a verdade reveladora: Jenniffer tinha câncer nos rins, em estado avançado.
Eu perdi completamente minhas forças. Entrei em um desespero esmagador, não sabia o que fazer. Só queria Jenniffer bem, ao meu lado, para sempre. Mas parecia que o “para sempre” havia se esvaído completamente.
Jenniffer começou a fazer quimioterapia, para tentar controlar o câncer que já estava na iminência de sofrer metástase. No início, ela foi relutante, pois não queria ficar sem o cabelo – além do mais, a quimioterapia iria arrancar-lhe suas forças. Eu disse a ela para não se preocupar, pois ela iria se recuperar para, posteriormente, nós voltarmos a sair, como sempre fazíamos.
Eu estava, na época, no penúltimo período do curso de Direito e meu cérebro estava praticamente todo ocupado pelo estágio na Justiça Federal e a monografia, que deveria apresentar no final do ano e o hospital, onde passava os fins de semana, ao lado de Jenniffer. Sua força se esvaía aos poucos – estava magra, seus olhos já não tinham mais aquela vivacidade que antes, seu rosto já não tinha mais a beleza de outrora e se encontrava sem cabelo, tendo em vista que o mesmo caíra por causa da quimioterapia.
Jenniffer percebeu que eu reparava como seu rosto perdera o encanto dos tempos belos.
- Estou feia, não é? – perguntou, acordando-me de meus devaneios
- Claro que não! – e realmente não a achava feia. Estava ainda bela, embora os seus olhos tristes me entristecessem – Você está bela!
- Pode falar a verdade... não está apaixonada por mim mais, não é verdade? Se quiser ir embora, pode ir... eu vou te entender... ninguém quer uma namorada doente ao seu lado, não é mesmo?
- Claro que não, princesa! – respondi. Afaguei os seus cabelos. Aquilo fez um tímido sorriso penetrar em seus lábios e olhos – Eu não vou largar você só porque você está doente. Eu já te disse, não disse? “Estarei sempre ao seu lado, para o que quer e vier”!
Jenniffer soltou um sorriso, embora seus pensamentos estivessem longe dali. Dei-lhe um singelo beijo em seus lábios, que foi correspondido por ela.
- Te amo, princesa! – eu disse
- Também te amo, amor! – respondeu Jenniffer, antes de me abraçar, da maneira como pôde

O tempo passou. Jenniffer foi apresentado piora no seu estado – a quimioterapia não surtiu efeito como esperado, suas forças se esvaíram praticamente por completo do corpo e o câncer se espalhou para os órgãos adjacentes. Segundo os médicos, a chance de melhora dela beirava o nulo. Aquilo me deixou desesperado, entristecido. Precisava acordar daquele pesadelo, entretanto, ele era real. Não sabia o que fazer.
E eis que o dia da minha formatura chegou. Eu não iria participar da festa – queria passar o maior tempo possível com Jenniffer -, entretanto, eu era obrigado a participar da colação de grau. Jenniffer foi aconselhada a não participar da colação, por causa do seu frágil estado de saúde. Deveria permanecer o tempo todo deitada, descansando, principalmente para não se sujeitar às intensas dores causadas pelo câncer, que comia o interior do seu corpo vorazmente.
A colação de grau já iria começar. Lá estávamos nós, todos portando becas. Conversávamos animosamente, apesar dos pesares. Repentinamente, para minha surpresa, à minha frente, surge uma silhueta. Era Jenniffer. Estava sentada na cadeira de rodas, com um tubo para facilitar sua respiração. Estava completamente frágil, magra, sem suas belas madeixas, com olhos tristes. Parecia exausta.
- Princesa? – perguntei. Sobressaltei-me ao vê-la ali. Desci rapidamente do lugar onde me encontrava e fui ao encontro dela.
- Ei, meu amor. – disse, com um sorriso no rosto, apesar da fraqueza.
- O que faz aqui? – perguntei, preocupado – Não deveria estar no hospital, descansando?
- E perder a formatura do meu amor? – aquilo foi como uma facada no meu peito. Derrubou-me por completo. – Não perco jamais.
Por mais que eu fosse bom em retórica, jamais iria derrubar aquele argumento dela.
- Tudo bem! – disse – Caso sinta alguma coisa, me avisa, que eu venho correndo te ajudar, certo? – continuei, com a eterna preocupação dos namorados para com sua respectiva namorada
- Certo! – respondeu Jennifer. Beijei-a na testa e parti para receber meu diploma.
E Jenniffer novamente se encontrava nos momentos mais felizes e tristes da minha vida. Por mais frágil que se encontrasse naquele dia, lá estava eu: vendo-me tornar um homem mais maduro, deixar de ser um menino estudioso e tornando-me um homem trabalhador.
Jenniffer sempre estava comigo, ao meu lado, para o que der e viver. E hoje lá está ela, novamente, ao meu lado, como um espírito guiando-me para o caminho certo. Um espírito bom, que se encontra ao meu lado para me proteger. Sempre.

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