sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O mendigo

Desde criança, já vi muitos mendigos pela cidade, todos maltrapilhos e esfomeados, mas, como aquele, jamais vi. Era o mais maltrapilho e o mais esfomeado mendigo que eu já vi em toda a minha vida. Ele andava bastante fétido, suas roupas eram um pedaço de pano velho jogado sobre aquele corpo mirrado. A visão era tão funesta, que todos o evitavam ao máximo.
Um dia, como todos os dias, eu estava andando pelas ruas quando o avistei, andando pelas ruas pedindo dinheiro, mas nada conseguindo. Foi quando eu vi dois rapazes passarem pelo mendigo e um deles o derrubar. Assim que o pobre coitado caiu no chão, os dois saíram rindo, debochando da humilhação do outro. Irritado com a desumanidade daquela dupla maldita, saí correndo até o mendigo – o único a fazer isso, os demais apenas observavam – e o ajudei a se levantar.
- Você se feriu? – perguntei
- Não, meu filho. Estou bem! – ele me respondeu. Por mais incrível que parecesse, ele emanava uma calma celestial – Muito obrigado! Que os céus olham para ti com toda bondade que hoje você olhou para mim!
Aquela frase me deixou encucado durante semanas, meses, anos... O que será que ele quis dizer com aquilo?
O mendigo partiu, não só daquele lugar, como de entre nós, tempos depois, deixando comigo aquela bênção estranha. Duas semanas depois, fui chamado para trabalhar em uma multinacional, onde hoje sou gerente, conheci a garota mais linda e simpática e hoje sou o sujeito mais feliz do mundo.
Lembra-se da dupla de desalmados, aqueles que vilipendiaram o pobre mendigo? Pois bem, o que não empurrou, apenas riu, perdeu a cabeça em um dia, matou a própria mãe e hoje, preso, está louco de remorso; o outro, teve a família inteira assassinada, perdeu tudo e hoje vive nas ruas, como mendigo e todos o vilipendia como ele, tempos atrás, vilipendiava os mendigos.

Escrito por Rodrigo Picon
Contato: rp_dex@hotmail.com

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