quarta-feira, 6 de junho de 2012

A casa de sopa de carne



Lenda de São João del-Rei, com pequenas mudanças


Era o final da tarde de uma sexta-feira ensolarada. Rodrigo, advogado conhecido de São João del-Rei, saiu de seu escritório direto para a represa de Camargos, onde lá encontraria seu irmão Rogério, que saiu no raiar daquele mesmo dia.
Rodrigo e Rogério iriam se encontrar com Amanda, agora noiva do segundo, para comemorarem o noivado, depois de oito anos, do “casal mais feliz do mundo”, segundo Rodrigo. O irmão advogado dera ao noivo um par de um bonito anel de diamante, para este ficar com um e dar o outro à noiva.
Rogério partira na frente, pois Rodrigo tinha uma audiência com muito dinheiro em jogo marcada para aquela tarde.
Era cinco horas da tarde e Rodrigo saíra às pressas do escritório, tão logo chegou do Fórum com a notícia de que ganhara, naquela audiência, honorários no valor de R$ 100.000,00. Iria recebê-los nos próximos dias, embora já estivesse a comemorar a vitória em sua primeira grande demanda junto da comemoração do noivado de seu irmão.
Rodrigo estava famigerado; almoçara às 11 da manhã para chegar o mais cedo possível no escritório e não se atrasar na audiência, e não comera ao sair de São João del-Rei. Iria esperar até sua chegada em Camargos, entretanto, ao ler a placa “SOPA DE CARNE: ESPECIAL DA CASA. DELICIE-SE” na entrada de um restaurante, cujo estacionamento se encontrava lotado, acabou por parar ali mesmo.
“Uma sopa de carne iria cair bem”, pensou Rodrigo, enquanto adentrava no lotado estacionamento daquele pequeno restaurante à beira de estrada. Estava com fome, e aquele findar do dia pedia uma sopa de carne junto de um vinho tinto.
O rapaz estacionou o carro no estacionamento do restaurante e adentrou no mesmo. Entretanto, visto que havia um número imensurável de carros ali parados, imaginou que o local se encontrasse completamente lotado e, como queria um pouco de paz e sossego, sentou-se em uma das poucas mesas da varanda.
Tão logo assentara na mesa do restaurante, do interior do mesmo saiu um garçom – era robusto e se encontrava portando um avental sujo de sangue -, antes mesmo de Rodrigo exigir sua presença. Estranhara o fato, mas nada dissera: queria saborear a sopa de carne e iria partir dali, para o mais depressa possível encontrar com seu irmão.
- Em que posso ajudar?
- Quero um vinho tinto e uma sopa da carne, especial da casa!
- Belo pedido! – disse o espadaúdo garçom, enquanto anotava o pedido em um bloco de notas. Em seguida, retirou-se do local, adentrando no restaurante.
Rodrigo esperava seu vinho e sua sopa de carne, enquanto avistava a bela vista do horizonte formado por morros que tinha da varanda do restaurante. Ao fundo, cortando os morros, se encontrava a estrada que estava a pegar, até sua chegada em Camargos.
Depois de cinco ou seis minutos no local, estranhou a ausência de sons que deveriam ser oriundas do interior do restaurante, uma vez que o mesmo se encontrava lotado. “Deveria estar ensurdecedor o barulho”, pensou. Pensou em averiguar os fatos, entretanto, eis que surge, do interior do restaurante, o garçom, portando consigo um prato de sopa de carne junto de uma taça contendo vinho.
- Bom apetite! – disse o garçom. Depositou na mesa o prato com a sopa e a taça com o vinho.
Rodrigo, por estar com sede, resolveu molhar a garganta com o vinho. Ao tomar um gole, estranhou o acre gosto da bebida.
- Só falta estar vencido... – disse, para si próprio. “Não estava tudo tão bom quanto imaginei quando entrei”, pensou consigo mesmo. Resolveu abocanhar a sopa de carne o mais depressa possível e partir daquele agora estranho local. Colocou a colher no interior da sopa e a retirou do prato, cheia de uma pequena nesga da comida. Levou-a à boca. Como havia pedaços de carne junto à sopa, postou-se a mastigá-lo. Naquele instante, sentiu seus dentes trincarem. Havia mastigado algo mui duro.
Rapidamente, postou-se a retirar do interior da boca a parte dura da sopa de carnes. Ao fitar o que mastigara, partiu do local às pressas, nauseante: mastigara um pedaço de dedo... HUMANO! Era um dedo mindinho, de tamanho adulto. E pior! A parte dura do dedo mastigado era um anel, completamente idêntico ao que Rodrigo dera ao irmão na constância de seu noivado.
Às pressas, adentrou no estacionamento em direção a seu carro. Ao chegar ao lado de seu automóvel, percebeu-o com os pneus furados. Não conseguiria evadir do local com facilidade.
Tomado pelo desespero, Rodrigo fitou os demais carros. Percebeu todos com os pneus furados e tomados por uma grossa poeira, oriunda da estrada de terra que cortava a região. Os automóveis estavam tomados pela ação do tempo. E junto daqueles carros, o rapaz percebeu haver um que lhe chamou atenção: era um Palio Preto, novo, mui seu conhecido. Lembrou-se ser de seu irmão, Rogério, e estava igualmente sujo pela ação do tempo.
Repentinamente, para surpresa sua, eis que surge uma pungente dor na região de sua nuca. Sentiu-se o equilíbrio esvair-se de seu corpo; seus olhos se tornaram pesados, e as pálpebras começaram a se fechar. Seus olhos fecharam, ao passo que sente seu corpo ir, em um só baque, de encontro ao chão.

Rodrigo acordou. Sentiu-se agrilhoado com pesadas correntes de ferro. Sua cabeça estava pesada, e sentiu sua vida esvair-se de seu corpo.
Estava em um local escuro, com apenas uma luz central focalizando-o. Junto dele, emergindo da escuridão, estava o garçom, portando consigo um gigantesco facão.
- O...O que está faz...zendo? – o medo tomou conta do corpo de Rodrigo
- Hoje tem mais ingrediente para o especial da casa: sopa de carne!
Rodrigo sobressaltou-se ao ouvir as palavras do garçom. Gritou, tentando fazer o garçom evadir-se do local, entretanto, não logrou êxito. Sentiu a faca adentrar em seu peito e fatiar na metade seu coração. Silenciou-se, ao mesmo tempo em que o garçom começara a fatiar sua carne para posteriormente colocar no prato da próxima vítima...

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