Eu tinha 16 anos quando ele completou 18. Pediu para seu pai lhe dar uma moto e um dinheiro, tão logo completara o terceiro ano do ensino médio. Perguntei o que queria fazer, éramos amigos há bastante tempo, e o meu amigo me respondeu que iria ganhar a vida, iria montar na sua moto e iria sumir pelas estradas do país. "Isso é loucura", critiquei, "Como ficará os estudos, a empresa do seu pai, a vida que têm aqui? Não pode largar tudo assim do nada e jogar pro alto". O meu amigo, como sempre, sorriu e me disse: "Não quero ser como meu pai ou como várias dessas pessoas que conhecemos, que ficam o dia inteiro sentado trabalhando ou estudando, apenas pensando no futuro. Eu quero viver o hoje. E se amanhã acontecer alguma coisa e eu morrer? Terei pensado tanto no futuro que não vou ter, que deixei de aproveitar a vida".
Meu amigo era insano. Desde os 10 anos, tinha essa visão de fazer hoje tudo o que era possível, antes de encostar a cabeça no travesseiro no final do dia. Já pulou de bungee-jump, asa-delta, ficava com todas as gurias que encontrava pelo caminho. Dizia que aquele era o seu dia e que iria viver apenas aquele dia, não o amanhã. E seu pai era totalmente contrário à essa visão de vida e queria colocar na cabeça do seu filho um pouco de juízo.
Tão logo o ano seguinte começou, meu amigo caiu na estrada. Falou que iria viver a vida livre, livre de responsabilidades, livre de problemas, livre de ter que ficar sentado o dia inteiro pensando apenas no futuro. Disse-me que seu lema era a música "Born to be Wild" e a colocou na sua moto possante antes de partir.
Meu amigo partiu, não só da minha vida, mas também do mundo terreno. Morreu três anos seguintes, em um acidente na estrada, mas viveu como quis, viveu cada segundo que lhe deram nessa vida. E foi esse recado que sua passagem por minha vida me deixou como base: não importo com a quantidade de dias que eu vou viver, mas apenas com a qualidade dos meus dias...